Livros seguem atuais após mais de 70 anos e tocam em problemas comuns à sociedade moderna.

zem de George Orwell o único autor clássico no top 20 brasileiro. As obras têm mais de 70 anos, mas são cada vez mais buscadas no Brasil. Elas se mantêm atuais e “traduzem a conjuntura política mundial”, avalia o cientista político Márcio Juliboni. Ele explica:

“O mérito de grandes escritores é perceber características mais perenes na sociedade”

“Orwell queria prevenir seus contemporâneos do que seria o totalitarismo. Mas ele foi tão preciso e eloquente nessa discussão que os casos que extraiu de lá são válidos até hoje.”

Também pode ter influência internacional nesta conta. Em 2017, “1984” liderou as listas de mais vendidos nos Estados Unidos após declarações de Donald Trump. No mesmo ano, a Amazon classificou o livro como o 1º lugar em uma lista de títulos para ler antes de morrer.

A obra também atingiu pico de vendas em 2013, após Edward Snowden revelar casos de espionagem de cidadãos americanos pelo governo.

A Companhia das Letras, editora dos dois livros no Brasil, publicou recentemente uma adaptação em quadrinhos de “A revolução dos bichos” e vai lançar em 2020 uma versão de “1984”, ambas desenhadas por brasileiros.

“É impressionante observar a força não só dos originais, mas também o interesse do público por atualizações da obra de Orwell, principalmente pela força e a originalidade do seu estilo”, diz Emilio Fraia, editor da Companhia das Letras.

Distopias costumam fazer sucesso entre os brasileiros. Dos 20 mais vendidos no Brasil neste ano, três são do gênero. Outras distopias estiveram na lista dos mais vendidos desde 2010, como “O conto da aia”, “Fahrenheit 451”, “Caixa de pássaros” e “Divergente”.

‘1984’, 1949 ou 2019?

Há três elementos em “1984” com paralelo na sociedade moderna:

  • Vigilância do indivíduo
  • Controle de informações
  • Criação de um inimigo comum

“No livro, a vigilância é feita pelas câmeras nas casas e nos apartamentos, as teletelas. Há um paralelo muito grande com essa parte de aparelhagem eletrônica que temos hoje em dia. Londres, por exemplo, é a cidade com mais câmeras por metro quadrado, há a questão da lei de privacidade na internet, a vigilância de ideologias e do pensamento político”, diz o professor.

“Ele também fala do controle das informações, com o ministério da verdade. Lá é muito menos sutil, você altera o passado conforme a conveniência do governo. Mas não estamos muito longe disso. Em várias partes do mundo há revisionismo histórico e contestação a fatos”, explica.

“Por fim, vemos as tentativas de Donald Trump de criar um antagonismo com os latinos e a China. Os nacionalistas europeus querendo uma Europa cristã e culpando muçulmanos por ondas de violência. Todos provocam mobilização da sociedade em torno de um inimigo comum, que serve para se livrar de sentimentos como raiva e frustração tão intensos nesses tempos.”