Péricles, Wesley Safadão, César Menotti & Fabiano e outros contam por que resolveram lançar singles, EPs e DVDs gravados em transmissões no YouTube e nas redes sociais.

Wesley Safadão grava DVD durante live — Foto: Reprodução/Instagram
Wesley Safadão grava DVD durante live — Foto: Reprodução/Instagram

Talvez a frase mais dita sobre o setor da música nos últimos tempos seja: “Fomos os primeiros a parar e seremos os últimos a retornar”. Ainda assim, durante a pandemia de coronavírus, o mercado tenta se movimentar. Primeiro, surgiram as lives. Agora, elas começam a render alguns frutos e geram novos projetos.

Seja em formato de DVD, EP ou single, os registros feitos durante as transmissões online estão sendo disponibilizados aos poucos pelos artistas nas plataformas digitais. Desta forma:

  • Eles cobrem os buracos dos projetos pré-planejados, mas que foram impossibilitados por conta da pandemia;
  • E criam mais uma conexão com o público, para que eles não fiquem sem lançamentos neste período.

Planejamento

Antes mesmo de transmitir a live, alguns artistas já anunciaram que o material online renderia um projeto extra. Foi o caso de Wesley Safadão, que gravou a segunda edição do DVD “WS em casa” durante uma de suas lives.

No caso do cantor, o projeto já estava nos planos de carreira antes da pandemia, mas acabou adiado. A ideia inicial era fazer o registro em 31 de março em São Paulo, mesmo local onde foi filmada a primeira edição. No fim, Safadão teve realmente sua própria casa como palco para a filmagem, seguindo à risca o nome do projeto.

“Tudo é novo para nós. E as lives foram a forma que nós artistas encontramos para continuar a levar nossa arte até o público. Em consequência disso, o mercado musical tem sido transformado e movimentado com esse formato novo”, afirma o cantor.

Safadão garante que, mesmo já tendo em mente que a transmissão online se tornaria um DVD, fez toda a produção seguindo à risca as normas para evitar contaminação de coronavírus. O resultado foi o triplo de tempo para a execução da parte logística.

“Para preparar um local para a live com cenário, luz, som, coisas que em dois, três dias estariam prontas. Estão levando sete ou até dez dias para ser feito. Um dia vai uma equipe reduzida e monta o cenário, no outro a galera da iluminação e assim por diante. Tudo planejado para manter o distanciamento social seguro e evitar qualquer tipo de aglomeração.”

Assim como o cantor, César Menotti & Fabiano também executou um plano fora dos planos, se podemos dizer assim.

Antes da pandemia, a ideia da dupla era lançar algo em agosto (“uma época que você lança, trabalha três meses e já pega o comecinho das festas de fim de ano”), mas os irmãos acabam de lançar um álbum digital produzido com material da transmissão de uma das lives.

“A gente, de fato, já prevendo tudo isso que estava acontecendo e que não teríamos mais uma sequência de shows esse ano, pensamos em tentar extrair um projeto da live”, explica César Menotti.

César Menotti & Fabiano — Foto: Divulgação / Som Livre
César Menotti & Fabiano — Foto: Divulgação / Som Livre

A dupla, que já almejava simplicidade no próximo projeto, seguiu o cronograma para o registro.

“Lógico que a gente, como artista, tem aquela vaidade de levar uma coisa muito massa, coisas mais grandiosas, mas a gente se pegou com esse problema nesse momento. Então a gente tem procurado fazer as coisas com muito carinho, muito bem feitas, com antecedência, mas trabalhando com um número muito reduzido de pessoas. Isso impossibilita de fazer grandes produções.”

Tudo mais simples

Para os sertanejos, em especial, que nos últimos tempos se acostumaram a produzir álbuns com megaproduções, as novas gravações têm mudado a forma até de olhar o mercado.

“Foi até bom essa coisa porque a gente sabe agora que pode fazer tudo na simplicidade”, destaca Maiara. Ela e a irmã, Maraisa, se uniram a Marília Mendonça para a “Live das Patroas”. A transmissão rendeu um álbum, que será lançado em 10 de julho. Nele, constam cinco faixas inéditas e algumas regravações de modão.

Diferente de alguns artistas que seguem com a apresentação no ar, o trio optou para derrubar a live do YouTube logo após a transmissão, mantendo, de certa forma, um suspense para o lançamento.

“As lives estão sendo essenciais pra gente estar produzindo conteúdo. É a hora de a gente focar nisso, em material, em conteúdo novo, pra galera poder ir se familiarizando e quando a gente voltar para os shows, vai ter música nova, vai ter um material incrível.”

“Estamos aproveitando essa fase de reclusão pra fazer esses produtos. E a gente quer fazer mais”, diz Maiara.

Maiara e Maraisa se unem a Marília Mendonça no projeto "Live das Patroas" — Foto: Reprodução/Instagram
Maiara e Maraisa se unem a Marília Mendonça no projeto “Live das Patroas” — Foto: Reprodução/Instagram

O projeto entre as três já era planejado há tempos, mas por causa das agendas cheias, não conseguiam tirá-lo do papel. A pausa com a pandemia, ao menos nesse sentido, foi positiva. Mas apesar do período produtivo, a cantora não vê a hora de voltar aos palcos.

“Esse lance que estamos fazendo das lives é só pra gente poder ir segurando até voltar. Ninguém quer viver disso, não. A gente ir para o show.”

“Não tem coisa melhor do que você sentir o calor do público, aquela troca de energia no palco”.

Um lançamento por ano

Quem também investiu em projetos pós-live foi Péricles. O cantor completa esta semana um ano do lançamento de seu último disco, o DVD “Mensageiros do amor”. Por isso, seguindo o planejamento anual, já tinha no cronograma um novo material para colocar no mercado neste período.

E assim o fez. Enquanto segue na preparação de seu álbum de inédita, fatiou sua live e lançou um EP.

“Ao todo, são sete canções que alegram muito e, principalmente, alegram nossos fãs, que pedem muito nos shows, nas lives. A intenção é fazer um carinho no coração do nosso público”, diz Péricles.

Capa do álbum 'Pericão retrô', de Péricles — Foto: Divulgação
Capa do álbum ‘Pericão retrô’, de Péricles — Foto: Divulgação

“Ao invés de pincelar de fato, pegamos as sete juntas pra ficar o mais próximo possível e pra mandar com qualidade também”, explica Péricles. Todas as escolhidas músicas são regravações, já seguindo a tendência nostálgica da quarentena.

“A intenção é agradar o público. Mas muita gente, nesse momento, vive um período muito grande de nostalgia, de saudosismo, porque existiu uma pausa pra cuidar de si. As pessoas estão mais nostálgicas porque fizeram reflexões da própria vida”, conta o sambista.

A banda Maneva também optou por trazer clássicos para seu novo álbum, fruto da transmissão da live “Tudo vira reggae”. Nele, o grupo regrava clássicos do rock, sertanejo, forró, entre outros ritmos, e acrescenta às canções as batidas que são base de sua carreira.

Dentre as cerca de três horas de live, foram selecionadas dez canções. “Foi um processo doloroso [de seleção]. A gente optou por canções que são eternas na nossa concepção, aquelas que fazem uma grande diferença na vida das pessoas ou que marcaram grandes momentos na vida das pessoas.”

“São artistas talentosíssimos, expoentes em seus respectivos segmentos, são donos de obras singulares, como ‘Anunciação’, do Alceu Valença, que é um gênio ao nosso ver. Também tem Raul Seixas, Chitãozinho e Xororó, Cláudio Zoli. Foi uma longa caminhada pra gente chegar nessas dez aí. Baita resenha.”

Banda Maneva — Foto: Leonardo Rocha / Divulgação
Banda Maneva — Foto: Leonardo Rocha / Divulgação