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‘Amor de mãe’: DJ Omulu comenta trilha sonora afinada com novela que põe o Rio em outro foco

Está na cara que “Amor de mãe” mostra o Rio além da praia e da Zona Sul. Basta ver as cenas pelas ruas do subúrbio carioca. Mas dá também para ouvir isso na trilha, cheia de música brasileira, mas sem bossa-nova. O foco é outro: da MPB dos anos 1970 a vários ritmos populares atuais.

Tem feminejo, funk, rap acústico, muito samba… O DJ carioca Antonio Antmaper, mais conhecido como Omulu, emplacou duas faixas:

  • “Tô te Querendo”, com Luedji Luna e Àttøøxxá, que junta pagode baiano e afrohouse;
  • “Meu Jeito de Amar”, brega-funk com Duda Beat, Lux & Tróia.

Rio nordestino

A novela das 21h começou com a história de Lurdes, vivida por Regina Casé, que sai do Nordeste para ganhar a vida no Rio. Tudo a ver com a história recente dos dois ritmos nordestinos que estão renovando sua força no Sudeste.

“A gente estava tendo muitos ciclos de coisas do Rio e SP. Hoje o momento é do Nordeste, sem dúvida. Esses ritmos ficaram se aperfeiçoando e estão prontos não só para o mercado brasileiro como o mundial”, diz Omulu.

O DJ também é noveleiro, e comenta: “Acho que pegaram um recorte do Rio menos óbvio.”

“E 90% do Rio é aquilo ali. A menor parte é bossa, Ipanema, Leblon. Buscaram um Rio mais ‘true’. Aquela tipo de cena debaixo da Linha Vermelha, por exemplo, é uma coisa legal e pouco explorada.”

Brasil que dá certo

A atriz Regina Casé vive Lurdes em 'Amor de mãe' — Foto: João Cotta/Globo
A atriz Regina Casé vive Lurdes em ‘Amor de mãe’ — Foto: João Cotta/Globo

Omulu é um personagem desse romance atual entre cenas populares efervescentes pelo país e um mercado sedento por conteúdo nacional, revitalizado pelo streaming. Há cinco anos, ele se destacou com produções de funk “rasteirinha”, variação cadenciada e lenta do estilo carioca.

Ele ajudou a conceber o som de Pabllo Vittar, antenado com vários ritmos brasileiros e com a música eletrônica gringa, no EP de estreia “Open bar” (2015). Desde então, já trabalhou com nomes que vão de Wesley Safadão a Elza Soares.

Conexões Regina-Diplo-Omulu

Omulu cita uma ligação mais antiga entre suas músicas e o universo de “Amor de mãe”. O som do DJ não tem só a ver com a trajetória de Lurdes, mas com a de Regina Casé da vida real também.

Regina é uma das conexões brasileiras de Diplo, o produtor americano entusiasta do funk, que ajudou a mostrar o potencial do batidão brasileiro no mercado global. Até hoje, quando Diplo vai a Salvador, fica hospedado na casa da atriz e apresentadora na Bahia.

O antropólogo Hermano Vianna, amigo de Regina Casé, foi consultor do filme “Favela on blast” (2008), em que Diplo desbravou o funk, e depois ajudou a criar o programa “Esquenta!”, que Regina desbravou esses e outros ritmos brasileiros.

Não é coincidência a foto abaixo, que mostra a cantora M.I.A., na época em que ela se jogou no funk carioca junto com Diplo, ao lado de Regina Casé e da funkeira Deize Tigrona:

Anos depois, Diplo ajudou a avalizar a empreitada internacional de Anitta. Ele sempre teve contato com Rodrigo Gorky, do Bonde do Rolê, futuro produtor de Pabllo Vittar. E também com Omulu, com quem até hoje troca ideias que vão do funk 150 ao pagodão baiano.

O DJ já fazia colagens musicais que incluíam o funk. Seu principal contato com o estilo, lá atrás, foi quando morou em Petrópolis, um berço da produtora Furacão 2000. Ele chegou a estudar Belas Artes e Ciência da Computação, mas queria mesmo fazer música.

“Conheço o Diplo há uns 10 anos. Ouvi o disco dele “Florida” (2004), vi que tinha sample de baile funk e pirei. Achei o e-mail dele comecei a trocar ideia. Depois me reaproximei dele por causa do Gorky, na época em que a gente lançou a ‘Open bar’ da Pabllo”, conta.

DJ carioca Omulu — Foto: Bruno Santiago
DJ carioca Omulu — Foto: Bruno Santiago

Omulu prepara um disco para 2020 e vê um bom momento para a música dançante do Brasil. É uma ideia parecida com o que ele vê nas cenas de “Amor de mãe” na Linha Vermelha, que parecem de cinema americano e ao mesmo tempo são muito brasileiras.

“Sempre busquei isso, uma brasilidade que dialogasse com o que rolasse nas pistas de dança ao redor do mundo.”