'Poderia ter sido eu', disse Anitta; Kondzilla postou que trabalha para 'mudar olhar de preconceito' sobre bailes. Nove pessoas morreram após ação da PM em festa no domingo.

Alguns dos nomes mais conhecidos da música no Brasil repercutiram, nos últimos dias, as mortes no Baile da 17, festa de funk em Paraisópolis, comunidade de São Paulo.

Na madrugada de domingo (1º), nove pessoas morreram pisoteadas e outras 12 ficaram feridas após uma ação da Polícia Militar no evento, famoso entre artistas e outros profissionais do funk na capital.

Anitta canta no palco Mundo no Rock in Rio 2019 — Foto: Marcelo Brandt/G1
Anitta canta no palco Mundo no Rock in Rio 2019 — Foto: Marcelo Brandt/G1

“Se fosse há uns anos, poderia ter sido eu, minha mãe e meu irmão. Uma das coisas que a gente mais fazia quando eu estava começando era cantar em baile de favela”, lembrou Anitta.

A cantora, hoje com repertório mais pop, iniciou a carreira cantando funk em festas de rua no Rio. No vídeo publicado no Instagram, ela acrescentou:

“Se o funk incomoda tanto, se o baile incomoda tanto, vai na raiz do problema, que não é matar as pessoas. É dar educação de qualidade.”

Kondzilla, principal produtor de funk em São Paulo, lamentou as mortes e disse que um dos objetivos de seu trabalho é “mudar o olhar de preconceito” sobre os bailes.

“Precisamos unir todas as frentes para iniciarmos um novo momento da história do funk, da juventude e das favelas de São Paulo.”

Um dos principais representantes do movimento do funk 150 bpm no Rio, o DJ FP do Trem Bala também falou sobre o episódio. “Poderia ter sido eu, que trabalho com isso e frequento baile de favela. Poderia ter sido meus amigos, que também frequentam”, disse.

“Nove jovens inocentes mortos. Por quê? Porque estavam lá pra dançar, pra curtir? É proibido agora fazer isso? Que preconceito é esse? Que racismo é esse?”, questionou. E completou:

“Nem todo o mundo tem condições de ir pra boate cara. O baile de favela é nosso lazer. Se não fosse ele, eu não seria DJ.”

O caso ainda gerou comentários entre nomes do rap. “Não aguento mais ficar aqui. A morte desses jovens já acabou com a minha semana”, postou Marcelo D2.

“Doloroso demais ver as matérias sobre o ocorrido lá em Paraisópolis. Vidas tão jovens perdidas. E a humanidade que nos resta vai sendo arrancada pouco a pouco. Não tem coincidência aí, não tem acaso. Tem descaso e maldade, que atravessa gerações, sangrando a quebrada”, disse Rashid.

O que é o Baile da 17?

A festa, que na madrugada de domingo acontecia na rua Ernest Renan, em Paraisópolis, é também conhecida pela sigla Dz7. Ela existe desde o começo dos anos 2000.

Segundo moradores ouvidos pela BBC News Brasil, o número 17 é uma referência a um bar de drinks que existia na favela. O evento teria surgido como um pagode em frente a esse boteco, mas, nos intervalos, os frequentadores ouviam funk em carros estacionados na rua.

O baile cresceu e invadiu as madrugadas. Carros com aparelhos de som potentes tocam funk para até 30 mil pessoas espalhadas por vielas que, hoje, são mais comerciais do que residenciais.

A festa costuma ocorrer nas noites de sexta e sábado. Mas podem começar na noite de quinta-feira e se estender até domingo. No dia da confusão, cerca de 5 mil pessoas participavam do baile.

A Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo instaurou um inquérito para avaliar a conduta dos policiais no evento, incluindo os abusos registrados em vídeos, que circulam nas redes sociais.

Seis PMs foram afastados das ruas e já prestaram depoimento. A Policia Civil também investiga o caso.