Elenco com Viola Davis, Michelle Rodrigez e Liam Neeson emprestam talento ao longa que abriu o Festival do Rio 2018 e mistura estilos.

É impossível colocar em apenas uma “caixa” o novo filme de Steve McQueen. O diretor inglês se especializou em dramas sobre traumas familiares e situações limite – basta olhar filmes como “Shame” e “12 anos de escravidão”, produção que lhe rendeu um Oscar, para confirmar –, em “As viúvas”, produção que abriu a edição 2018 do Festival do Rio, seu leque é muito mais amplo.

A estreia no circuito nacional está marcada para o dia 29 de novembro.

Os dramas familiares estão lá, é claro. No entanto, no roteiro também há espaço para crítica social, comentários sobre política, emancipação feminina e até doses de humor. Além disso – e este talvez seja o aspecto que mais chame a atenção – em sua meia hora final, “As viúvas” se transforma em um eficiente e tenso filme de assalto.

Na trama, quatro bandidos são assassinados ao tentar roubar o dinheiro de um dos principais criminosos de Chicago – Liam Neeson, em participação pequena e marcante, é o líder do grupo. Ele é casado com a personagem interpretada por Viola Davis, que decide juntar as outras viúvas para realizarem um novo assalto, cujo planejamento já havia sido finalizado por Neeson.

É a partir daqui que o filme chega em seu ponto central, com três das quatro viúvas (Além de Davis, Michelle Rodriguez, Elizabeth Debicki) precisando se transformar em um grupo eficiente de assaltantes em pouquíssimo tempo. Elas também contarão com a ajuda da personagem interpretada por Cynthia Erivo.

A meta é roubar US$ 5 milhões e devolver parte do dinheiro ao bandido interpretado por Bryan Tyree Henry, de quem seus agora falecidos maridos haviam roubado.

Além de ser a presença criminosa mais poderosa do roteiro, esse personagem será importante para desenvolver a trama política que funciona como pano de fundo do filme. Ele concorre ao cargo de vererador e vai entrar em embate direto contra o adversário interpretado por Colin Farrell. Por meio dessa competição, o espectador poderá acompanhar a corrupção e hipocrisia da vida política de Chicago.

Do ponto de vista formal, McQueen mantém algumas das principais características de sua filmografia. O mais evidente são os planos longos para acentuar determinados sentimentos, estados emocionais e sociais – preste especial atenção à cena de um diálogo travado entre Farrell e sua assistente, mostrada todo o tempo do lado de fora do carro onde estão, para realçar o abismo econômico que existe entre bairros de Chicago que estão afastados por poucos metros.

O diretor também é habilidoso na utilização do extracampo, quando o que existe de mais importante naquele determinado momento do filme está fora da tela, o que aumenta a tensão do público.

“As viúvas” passeia por vários gêneros – é um drama, uma crítica política, uma declaração de força feminina e um filme de assalto. E faz tudo isso muito bem.