Perícia não apontou indícios de violência, ainda segundo parentes. Artista participou de novelas da Rede Globo como 'O Bem-Amado', 'Gabriela' e 'As Três Marias'. Corpo foi encontrado pela PM na segunda (3).

O ator João Paulo Adour, que foi encontrado morto em casa na segunda (3), sofreu uma parada cardíaca e não foi vítima de violência, de acordo a família do artista, que conversou com o G1 nesta quarta-feira (5).

Aos 77 anos, João Paulo Adour morava sozinho em um apartamento em São Conrado, na Zona Sul do Rio e, inicialmente, a hipótese de assassinato ou latrocínio não tinham sido descartadas pela Polícia Civil, já que a casa dele estava revirada, segundo os agentes.

No entanto, a corporação fez perícia no local e o caso acabou não sendo encaminhado para a Delegacia de Homicídios da Capital.

O sobrinho de João Paulo, Tomaz Adour, de 47 anos, esclareceu que João Paulo infartou havia, pelo menos, dez dias, pela deterioração do corpo.

“Está tudo no apartamento, relógios, quadros, pela posição em que ele estava, foi constatado que ele infartou sozinho. Ele era cardíaco também e não gostava de seguir dieta, uma hora o coração não aguenta. A polícia pegou impressões digitais e não esteve ninguém lá, a ‘casa revirada’ é bagunça dele mesmo. Ele morreu nu e com o livro que estava lendo na mão”, contou Tomaz.

A missa de sétimo dia será na segunda-feira (10), no Mosteiro de Nossa Senhora dos Anjos das Irmãs Clarissas, na Gávea, às 18h, segundo familiares.

João Paulo Adour interpretava 'Ivan' e Patrícia Bueno era 'Gisa' na época da gravação da novela 'Dona Xepa', da Rede Globo, em 1977 (Foto: Arquivo pessoal / Patrícia Bueno)
João Paulo Adour interpretava ‘Ivan’ e Patrícia Bueno era ‘Gisa’ na época da gravação da novela ‘Dona Xepa’, da Rede Globo, em 1977 (Foto: Arquivo pessoal / Patrícia Bueno)

Segundo o sobrinho do artista, a última pessoa com quem João Paulo falou foi a atriz Patrícia Bueno, filha da crítica de teatro Bárbara Heliodoro, que morreu em 2015.

Amiga de João Paulo, a atriz Patrícia Bueno, que apelidava carinhosamente o artista de “Johnny”, contou que ele foi uma grande paixão da adolescência e que conversavam muito pelo telefone. Os dois contracenaram pela primeira vez durante a novela ‘Dona Xepa’, da Rede Globo, exibida em 1977.

“A última vez que nos falamos foi no final de agosto e tive que desligar por causa da minha cachorra. Nunca imaginaria que não fôssemos nos falar de novo. Meu coração está dilacerado. Johnny foi meu amor de adolescente quando eu ia assistir às peças dele. Foi uma supresa quando trabalhamos juntos. Gostávamos de ficar de ti-ti-ti no telefone, falar de moda, de amigos, inimigos, cultura nacional, ele era um homem muito sensível”, contou a atriz.

Patrícia disse ainda que, recentemente, João Paulo estava muito desesperançoso com relação à cultura no país, à falta de investimentos em arte.

“Conversávamos sobre tudo ao telefone e, quando falávamos de cultura, ele ficava muito triste e desanimado com a falta de incentivo, de preservação, a pobreza que fica da cultura no país. Depois do fogo no Museu Nacional, não gosto nem de pensar. É uma tristeza”, lamentou a artista.

Para o sobrinho do ator, o tio vai deixar saudades e muito trabalho, já que há relíquias no apartamento de João Paulo que precisam ser preservadas.

“Foi uma das pessoas mais inteligentes e cultas que eu conheci. Era fechado, mas muito carinhoso e rascante, adorava fazer críticas ao teatro. Na casa dele há tesouros, cartas trocadas entre ele e Lima Barreto, João do Rio, Guimarães Rosa, Tônia Carrero, entre tantas outras coisas. Quem sabe não dá um livro?”, diverte-se Tomaz com as lembranças do tio.

João Paulo Adour ao lado de Maitê Proença na novela 'As Três Marias', em 1980. (Foto: Cedoc/ Tv Globo)
João Paulo Adour ao lado de Maitê Proença na novela ‘As Três Marias’, em 1980. (Foto: Cedoc/ Tv Globo)

*Estagiária sob supervisão de João Ricardo Gonçalves