Voz da sétima geração de músicos de família paulista, Francisco Teixeira de Oliveira vem seguindo a dinastia desde que entrou em cena, em 2002, como cantor, compositor e violonista. Chico Teixeira – como o artista se apresenta artisticamente – é filho de Renato Teixeira, um dos mais finos estilistas da canção ruralista brasileira descendente do folk.

Talvez por isso mesmo, pela devoção natural à obra icônica do pai, Chico nunca tenha firmado a própria assinatura na música brasileira. O que jamais atenua a beleza do disco ao vivo ora lançado por Chico através da Kuarup, gravadora que tem vários álbuns de Renato no catálogo ruralista.

Raízes sertanejas ao vivo é título adequado para este quarto álbum da discografia solo de Chico Teixeira porque o cantor revolve as firmes raízes plantadas pelo pai ao longo de 50 anos de carreira. Com timbre que expõe o nobre D.N.A. familiar por remeter inevitavelmente ao de Renato, Chico se confirma bom cantor nessa gravação ao vivo de show captado em apresentação da turnê Raízes sertanejas no Auditório Ibirapuera, em São Paulo (SP), cidade natal do artista.

Capa do álbum 'Raízes sertanejas ao vivo', de Chico Teixeira (Foto: Divulgação / Kuarup)
Capa do álbum ‘Raízes sertanejas ao vivo’, de Chico Teixeira (Foto: Divulgação / Kuarup)

À vontade no universo ruralista, Chico transporta até samba do compositor mineiro Ataulfo Alves (1909 – 1969), Laranja madura (1966), para a estrada do sertão. Essa estrada ganha sentido metafórico e simboliza a vida nos versos de Eu apenas queria que você soubesse (1981), canção de Gonzaguinha (1945 – 1991) ambientada com ligeira estranheza nesse universo sertanejo.

Mesmo quando dá voz ao próprio cancioneiro, (bem) representado no disco por Chama da floresta (2017), Chico evoca a figura paterna. Da obra autoral, o cantor também dá voz a Ares do saber, parceria com o compositor mineiro Paulinho Pedra Azul, de quem Chico pesca a pérola Jardim da fantasia (1982), música-título do primeiro álbum de Azul que se afina com as raízes sertanejas pelo tom bucólico.

Como Renato, Chico Teixeira canta o homem do sertão no tempo da delicadeza. É com suavidade que Chico sopra Ventania (De como um homem perdeu seu cavalo e continuou andando), música de Geraldo Vandré – em parceria com Hilton Accioli – lançada em 1967, ano que Renato Teixeira começava a trilhar a própria estrada. Tal suavidade jamais anula a pegada da banda, evidenciada no toque virtuoso de Merceditas, tema instrumental composto e gravado na década de 1940 pelo guitarrista argentino Ramón Sixto Ríos (1913 – 1995) no ritmo do chamamé, popular no sul do Brasil.

Chico Teixeira (Foto: Divulgação / Valeria Zoppello)
Chico Teixeira (Foto: Divulgação / Valeria Zoppello)

Chico também extrapola a fronteira brasileira e faz outra abordagem do cancioneiro do Mercosul em Entre mar y cordillera (Carlos Montbrum Ocampo), canção argentina originalmente associada ao ritmo da cueca, recorrente no universo folclórico do Chile.

Em território mais familiar, o cantor recebe o convidado Sérgio Reis para caminhar com o anfitrião na certeira estrada melódica de Boiadeiro errante (Teddy Vieira), clássico sertanejo de 1959 que Reis tomou para si a partir de 1981.

E tem, claro, a presença de Renato Teixeira, com quem Chico canta uma das mais belas (e menos ouvidas) canções do pai, Aprendendo a viver (1995), lançada há 23 anos na voz do cantor Zé Geraldo. “As coisas do mundo / Vão se traduzindo / E o tempo é o vento / Que vai conduzindo / E a gente navega / Nos mares da vida / Aprendendo a viver”, poetizam pai e filho, irmanados e seguros pelas firmes raízes fincadas nos sertões do Brasil. (Cotação: * * * *)