Ex-motoboy de 19 anos virou um dos funkeiros mais ouvidos do Brasil com músicas que exaltam a moto e falam da vida na favela, como 'Motoloka' e 'Olha esses robôs - despertador das favelas'.

MC Lipi no clipe de 'Motoloka' — Foto: Divulgação
MC Lipi no clipe de 'Motoloka' — Foto: Divulgação

Luiz Felipe Messias Lopes já entregou pizza como motoboy, mas foi outro trabalho ligado à moto que fez seu nome circular por todas as quebradas de SP. O MC Lipi, de 19 anos, virou fenômeno no funk com músicas que exaltam as motocicletas.

Na semana entre 12 e 18 de junho, Lipi foi o 11º artista mais ouvido do Brasil, à frente de nomes como Anitta, Luan Santtana e Wesley Safadão. Seus maiores hits são “Motoloka”, “Vitória chegou” e “Olha esses robôs”, com o marcante verso “o barulho do robozão é o despertador da favela”.

Lipi faz parte da nova geração do “funk consciente” de SP, que fala sobre a vida difícil na favela, com ecos de louvor religioso. A moto (também chamada de robô ou nave) é o grande símbolo do dia a dia na comunidade e da superação das dificuldades.

Ele diz que fez seu primeiro funk há seis anos, quando trabalhava em um ferro velho em Ilhabela, no litoral de SP, ganhando R$ 400 por mês.

Fez outros bicos na Vila Ré, Zona Leste de SP, como distribuir panfletos e entregar pizza usando a moto de um amigo. Mas foi cantando sobre o veículo que ele achou uma saída.

Ele foi um dos MCs que deu a cara deste funk atual. Entrou para a produtora Gree Cassua, que tem como um dos sócios do veterano DJ Perera, em 2015. Foi lá que conheceu Paulin e outros parceiros, que depois iriam para a Love Funk.

“Comecei a querer a falar mais da minha realidade, do que eu vejo, do que os outros passam e eu passava”, ele diz.

“A gente falava de carro, mas não via nem carro direito. O que eu vejo na minha quebrada é moto passando para lá e para cá”, diz o ex-motoboy.

Além de realidade, a moto é também um desejo para muita gente em volta dele. “Tem muito moleque que sonha em ter uma moto”, diz Lipi.

A letra de “Olha esses robôs” ainda tem elementos da onda anterior do funk sexual. Mas foi o verso “o barulho do robozão é o despertador da favela” que fez a música de Lipi com Digo STC virar um hino instantâneo.

DJ GM e MC Lipi no clipe de 'Motoloka' — Foto: Divulgação
DJ GM e MC Lipi no clipe de ‘Motoloka’ — Foto: Divulgação

Por que a moto?

A cultura da moto é antiga no funk de São Paulo. Em 2014, por exemplo, o MC Bin Laden emplacou o sucesso “Bololo haha”. O título é explicado no especial do G1 “O Mundo Funk Paulista”, de 2015, que descreve o “Baile da 17”, em Paraisópolis:

“São quase 23h30, e carros de som e barracas de bebida enchem a rua Herbert Spencer. Os meninos geralmente chegam em grupos e ficam à beira da calçada. Muitas motos fazem manobras e barulho, o chamado “bololo” – quando se retira o filtro do escapamento para aumentar o ruído do motor.”

Mas no novo funk consciente, a moto faz ainda mais barulho. MC Paulin da Capital, parceiro de Lipi e outro ídolo da nova geração, explica:

“A moto dá pra dar ‘um grau’. Tem gente que sonha em ter uma moto para andar na quebrada, e nem biclicleta tem para sonhar. E têm os motoboys sofredores. É um meio de trabalhar também.”

Lipi, Paulin e boa parte do novo funk consciente de SP estão na produtora Love Funk. O fundador da empresa, Juninho Love, tenta explicar o fenômeno das motos:

“A molecada vê o “robozão” como um prêmio para eles. A maioria é motoboy, ou ajudante do motoboy, no trabalho do dia a dia. Para quem não tem poder aquisitivo, uma moto BMW GS é um sonho.”