Produzido por Grou, disco inclui dancehall, canção de levada R&B e faixa inspirada pelo pagode dos anos 1990.

Voz feminina que vem sobressaindo no universo predominantemente masculino do hip hop, de início sob as bençãos do mano Emicida, Drik Barbosa refletiu no primeiro EP, Espelho (2018), a libertação das correntes machistas usadas para tentar aprisionar as minas.

Ao lançar o primeiro álbum, Drik Barbosa, a rapper paulistana dá continuidade ao exercício da liberdade em sentido mais amplo. Drik se apresenta e se posiciona como rapper, mas com toda a liberdade de gênero musical.

Tanto que se permite até reverberar ecos do pagode dos anos 1990 na batida sintetizada de Tentação (Grou, Drik Barbosa, Raoni, Thiago Jamelão e Lira), música cantada por Drik com a adesão do Àttøøxxá, grupo soteropolitano que tem o pagode baiano como uma das principais referências sonoras.

Capa do álbum 'Drik Barbosa' — Foto: Bruno Trindade
Capa do álbum ‘Drik Barbosa’ — Foto: Bruno Trindade

Além das fronteiras do hip hop, a artista insere rap na romântica levada R&B da canção Até o amanhecer (Grou e Drik Barbosa) com a mesma naturalidade com que acompanha a velocidade de 150 BPM do funk Quem tem joga (Grou, Drik Barbosa, Gloria Groove, Karol Conka e Emicida), música gravada por Drik com Gloria Groove e Karol Conka e apresentada em maio como primeiro single do álbum lançado na sexta-feira, 11 de outubro.

O disco chega ao mercado fonográfico precedido por outros singles, como o trap Rosas (Drik Barbosa, Grou, Cínico e Lira) e Liberdade (Grou, Emicida e R.A.E), faixa gravada com a adesão vocal de Luedji Luna e com o discurso da rapper inglesa R.A.E. Música que cai bem no suingue percussivo, Liberdade ratifica o discurso feminino deste disco que prega a emancipação das minas.

É fato que o necessário discurso do álbum Drik Barbosa por vezes soa bem mais forte do que a música em si, geralmente assinada por Grou, produtor do álbum gravado sob a direção artística de Evandro Fióti, CEO da gravadora Laboratório Fantasma.

Drik Barbosa — Foto: Bruno Trindade / Divulgação
Drik Barbosa — Foto: Bruno Trindade / Divulgação

Essa diferença de peso entre o som e o discurso é também efeito de Drik transitar pelo pop em repertório que inclui aliciante dancehall, Renascer, música de Grou em que Drik celebra a vida com os versos da cantora e compositora congolesa Marissol Mwaba, autora da letra cantada pela rapper paulistana com a convidada Denise de Paula.

Parceria de Drik com o padrinho artístico Emicida, Sonhando reverencia as minas que precederam a rapper no universo brasileiro do hip hop, como Camila CDD e Negra Li, citadas nominalmente na letra.

Drik Barbosa — Foto: Bruno Trindade / Divulgação
Drik Barbosa — Foto: Bruno Trindade / Divulgação

Sonhando fecha o álbum em sintonia com a narrativa autobiográfica de Herança (AuraSoul, Diego Amani, Grou, Drik Barbosa e Anna Tréa), alocada no início deste disco que também inclui parceria da rapper com os manos Rincon Sapiência e 2B em Tão bom.

Música impregnada das boas vibrações recorrentes no disco, Tão bom mostra que Drik Barbosa segue a batida do coração e a do mercado sem trair a origem – Grave (Grou e Drik Barbosa) faz exaltação da ancestralidade – e sem perder a ternura até quando endurece o discurso de afirmação feminina, absolutamente fundamental em um mundo em que mulheres são vítimas do jugo machista ainda entranhando na sociedade de origem patriarcal.

Por isso mesmo, respeite e ouça a mina Drik Barbosa! (Cotação: * * * 1/2)