Cantora fala ao G1 sobre shows neste mês em Londres, Paris e no Rock in Rio Lisboa. 'Ponho celulites no clipe, Amazônia, favela, drag queen... Tudo é para gerar debate'.

Ela já passeou em Portugal e na França, mas nunca fez shows. Já deu um pulinho na Espanha quando “Show das Poderosas” fez certo barulho por lá, mas nunca cantou em uma grande casa de shows espanhola. Para Londres, Anitta nunca foi.

Neste mês, a cantora carioca de 25 anos faz sua primeira turnê europeia com shows:

  • Em Portugal, no Rock in Rio Lisboa, no dia 24
  • Em Londres, no Royal Albert Hall, no dia 28
  • Em Paris, no Le Trianon, no dia 26

Em entrevista ao G1, Anitta fala sobre a viagem e diz que quer “gerar debate” com seus clipes e músicas. Ela avisa que pode lançar álbum só com inéditas até o fim do ano, conta ter negado um monte de parcerias e elogia “This is America”, de Childish Gambino.

G1 – Como estão os preparativos para a turnê europeia?

Anitta – Eu estou super ansiosa. A gente está preparando esses shows há meses. Quero fazer algo incrível, bem lindo. Eu não vou reinventar a roda, vou fazer um show do nível que faço no meu país. Mas é diferente, um lugar novo, então tento mudar. Não será um bicho de sete cabeças.

G1 – Para você, é um dever do artista se posicionar, ir além da música, das letras de amor, sexo, curtição… Tentar passar uma mensagem diferente vez ou outra?

Anitta – Eu tenho um público jovem, adolescente, criança…

“Esse público aborrescente, a grande massa não curte perder tempo com coisas chatas. Eu tento falar indiretamente com eles, sem que percebam que estou falando de coisas sérias. Por isso ponho celulites no clipe, Amazônia no clipe, favela no clipe, uma drag queen, a Pabllo Vittar… Tudo é para gerar debate, induzir uma discussão saudável”.

Gero debate, mas usando o entretenimento. Tem que ser de um modo leve, para cima, sem as pessoas notarem que estão sendo impactadas.

Anitta no clipe de ‘Vai Malandra’ (Foto: Reprodução)

G1- Todo mundo leva em conta a sua opinião, sobre qualquer assunto. Rola até uma cobrança para que você se posicione. Daí quando você fala sobre Marielle, ‘Vingadores’, feminismo… Isso repercute. Como você se sente com isso?

Anitta – É muito difícil, porque estamos em um momento em que as pessoas não aceitam que tenham opiniões diferentes das delas. Eles cobram uma opinião sua, mas cobram pensando que você vai dizer que pensa igual a eles. Se é diferente, você se prejudica.

Eu tento ser o mais justa possível e não me apronfundo sobre assuntos que não tenha certeza e embasamento. Não dá para dar opinião baseada em opinião dos outros, baseado em fofoca e especulação. Eu só omito opinião unilateral se tenho absoluta certeza dos fatos acontecidos.

Eu acabo ficando refém, porque não sei sempre de fato o que é a verdade. É perigoso. Eu procuro fazer a minha parte, cada um tem seu papel na terra. Meu papel é entreter, levar esperança, diversão e sentimentos bons mesmo nos momentos de dificuldades.

“Às vezes, eu estou num dia ruim e falo coisas que não eram corretas. Eu posso estar cansada e falar algo errado. Errar é humano. Mas a diferença é que quando eu erro tem gente sempre observando”.

G1 – O quanto falar espanhol e inglês é importante para sua carreira. Como você aprendeu os idiomas?

Anitta – Inglês, comecei a estudar desde nova por causa da minha mãe. Espanhol foi depois que “Show das Poderosas” ficou grande na Espanha, em 2014. Precisei ir lá para fazer show e não sabia me comunicar com ninguém… Cheguei no Brasil e a primeira coisa foi procurar um professor de espanhol.

G1 – Um levantamento do Spotify disse que o funk cresceu 3000% no streaming desde 2016. Até onde pode ir essa internacionalização do pop funk brasileiro?

Anitta – A partir do momento que a gente faça sons diferentes e novos. O Brasil tem numero grande de streaming porque temos o tamanho de um continente. Se é sucesso aqui, respinga para outros países. Quando viajo tento falar sobre funk, exportar o funk…

Tem pessoas fazendo funk fora do Brasil. É uma questão de tempo para o nosso funk crescer ainda mais. Eu não gosto de me colocar responsável, mas tento fazer minha parte.

Anitta no clipe de 'Is that for me' (Foto: Reprodução)
Anitta no clipe de ‘Is that for me’ (Foto: Reprodução)

G1 – Já que estará na Europa, vai conseguir ir ver algo da Copa na Rússia?

Anitta – Não vou conseguir ir… Eu tenho agenda quase todos os dias. Não vai dar.

G1 – Em 2017, os seus três clipes mais vistos no YouTube foram no qual você não era a artista principal: ‘Loka’, ‘Sua Cara’ e ‘Você Partiu Meu Coração’. Hoje, escolher o featuring certo é tão importante como saber cantar, dançar, se vestir?

Anitta – Você tem que saber o motivo de estar fazendo aquele featuring. Acho errado fazer feat só para ter grandes números. Eu sempre penso primeiro na parte artística. Se tem a ver comigo, eu faço. Não posso ficar só pensando em números ou sucesso.

G1 – E já negou alguma parceria?

“Eu já neguei vários feats. Até porque neste momento da carreira tem gente do mundo inteiro me pedindo feat. Se eu aceitar todos, lanço mil músicas por ano”.

Eu analiso com calma e vejo o que mais combina comigo. Todos os feats deste ano são pedidos do ano passado. Tem que ter planejamento, essa com o Safadão, por exemplo, foi bem planejada…

G1 – Você não lança álbuns há três anos, mas fez o projeto check mate e tem uma quantidade de músicas que poderia ter enchido uns dois álbuns já. Você nunca mais vai lançar álbuns? Esse formato está morrendo?

Anitta – Eu acho que está votlando, na verdade. Não tinha mais vontade [de lançar álbuns] até o ano passado e agora estou super querendo. Tenho quantidade de músicas inéditas para fazer um. Tenho mais até. Talvez aconteça de lançar neste ano ainda, mas eu sou muito de deixar a vida me levar. Se der deu, se não der não deu.

Anitta no clipe de ‘Paradinha’ (Foto: Divulgação)

G1 – Mas tem chance de lançar ainda neste ano, né?

Anitta – Talvez seja ainda neste ano, sim. Estou com muita vontade de lançar um disco, mas tem a questão de estratégia internacional da minha carreira. Uma questão burocrática, de investimento, de divulgação. As músicas novas são muito diferentes entre si. Eu não gosto de fazer uma coisa muito igualzinha, com conceito. O disco não seria contando história nenhuma.

G1 – Qual tipo de público você espera nos shows na Europa?

Anitta – Eu acho que vai ser a maioria brasileiro em Paris e Londres. Mas vai dividir também com meus públicos novos no mercado espanhol e inglês. Estou na expectativa de ver como será a divisão. Em portugal sei que será um novo público mesmo, na maioria de portugueses.

G1 – Você vai cantar pela primeira vez no Rock in Rio Lisboa… E já assinou contrato para tocar lá e na edição do Rio. Como viu a campanha dos fãs para que você cantasse no festival?

Anitta – Eu fico muito feliz de ter o apoio do meu público. Eu nem sempre fui pelo caminho que todo mundo seguia ou pensava que eu devesse seguir. Eu conto com a resposta do meu público… Minhas conquistas vêm por conta do retorno que eles me dão. Se eu não tivesse essa resposta, muita coisa teria morrido na praia. São eles que me impulsionam.

G1 – Sei do seu interesse por pop, em pesquisar o que está rolando na música… Para você, qual será a próxima tendência?

Anitta – A grande tendência agora é a mistura de ritmos africanos com funk. Os novos ritmos africanos já têm muito do funk em alguns lugares da África. A batida é bem parecida, mas é uma leitura diferente do ritmo.

Aqui no Brasil, a próxima tendência é o hip hop e o R&B. O hip hop é muito grande nos Estados Unidos. Mas é assim, o estilo ganha força no Brasil depois que fica grande lá fora.

G1 – Falando de novidades do pop, o que você achou do clipe de ‘This is America’, do Childish Gambino?

Anitta – Achei incrível. Eu tinha visto algumas coisas da equipe do artista. Achei muito importante o vídeo, porque a gente tem esse papel. Como eu disse, é importante usar o entretenimento para debater temas. Foi muito bacana ver elementos históricos para falar sobre racismo e preconceito. Fiquei pesquisando sobre cada referência… Achei genial e inteligente.