Símbolo do último auge do pop reggae no país, banda ressurgiu fazendo som mais diferentão. Vocalista fala de fase 'madura': 'Já passou aquela época do deslumbramento'.

O Natiruts está mais místico do que nunca. A banda que simboliza o último auge do pop reggae no Brasil, no início dos anos 2000, ressurgiu fazendo um som mais diferentão.

Depois de oito anos sem novos trabalhos de estúdio, saiu no ano passado “Índigo cristal”. Nesta quarta (13) – às 16h43, momento da conjunção entre o Sol e a Lua em gêmeos -, o grupo lançou o clipe de “Dois planetas”.

O vídeo, assim como todo o álbum, tem referências astrológicas e de música indiana. “No tempo em que ficamos sem gravar inéditas, visitamos muitos lugares místicos. Colocamos isso no disco”, explica o vocalista Alexandre Carlo.

Enquanto viajava em turnê, a banda acompanhou de longe o sumiço do reggae das listas de mais ouvidas do país. Também viu, mais recentemente, ele reaparecer embrenhado em outros gêneros do pop, como o sertanejo. O cantor opina:

“Os estilos cabem uns nos outros. O sertanejo faz o reggae à sua maneira, assim como o Natiruts faz o reggae à sua maneira.”

Na entrevista abaixo ao G1, Alexandre explica por que se sente um dos responsáveis pelo fenômeno, fala da falta de interesse em parcerias e da fase “madura” do grupo: “Já passou aquela época do deslumbramento.”

G1 – O ‘Índigo cristal’ saiu depois de oito anos sem novos álbuns de estúdio. Além dos trabalhos ao vivo, o que fizeram nesse tempo, que se refletiu no disco?

Alexandre Carlo – Ficamos tanto tempo sem gravar inéditas muito por conta da carreira fora do Brasil. Tivemos oportunidades de visitar muitos lugares misticos: Peru, Chile, a Europa com suas tradiçõies, os maoris na Nova Zelândia… Isso contribuiu muito, colocamos no disco.

G1 – Nesse período, o reggae saiu daquela fase em que era um gênero super pop. O público de vocês continuou o mesmo?

Alexandre Carlo – Há determinados artistas cujo som ultrapassa as barreiras do próprio estilo. Com o Natiruts é assim. Muita gente que não curte reggae curte a gente.

“O pessoal que curtia nosso som das antigas, talvez, não frequente mais os shows porque já tem filho, trabalho… Daí vem a importância da renovação do público.”

E, com a gente, essa renovação acontece de forma muito natural, já que não estamos toda hora na mídia. Vemos nos shows pessoas da faixa estária jovem, que frequenta apresentações de música pop.

O vocalista Alexandre Carlo e o baixista Luis Mauricio, do Natiruts (Foto: Beto Gatti/Divulgação)
O vocalista Alexandre Carlo e o baixista Luis Mauricio, do Natiruts (Foto: Beto Gatti/Divulgação)

G1 – Hoje vocês se sentem mais livres para produzir para esse público, com menos pressão do mercado?

Alexandre Carlo – Na verdade, acho que somos uma das principais bandas responsáveis justamente por libertar o reggae. Não vejo um outro grupo que tenha levado o reggae a explorar outros caminhos e estilos, como fizemos.

“Sem dúvida, somos bastante responsáveis pelo fato de uma banda de reggae fazer parceria com um sertanejo hoje.”

G1 – Como você vê essa mistura com outros gêneros do pop, principalmente o sertanejo?

Alexandre Carlo – A moda sertaneja não faz o reggae propriamente, mas usa a influência. Os estilos cabem uns nos outros, e eu acho legal quando rola isso. O sertanejo faz o reggae à sua maneira, assim como o Natituts faz o reggae á sua maneira.

G1 – Vocês são muito procurados para parcerias desse tipo? Por que quase não fazem?

Alexandre Carlo – Sim. Quando há uma parceria, geralmente é o cantor que faz a participação. No meu caso, é uma questão de momento. Já fiz parcerias com bandas de rock, de rap e pagode, não tenho preconceito.

Agora estou muito concentrado no Natiruts. Não tenho essa pretensão e não surgiu nenhuma ideia relevante artisticamente.

G1 – Nesse novo ambiente, você vê o reggae como um dos gêneros mais populares do país?

Alexandre Carlo – O Brasil é muito diverso. É claro que os ritmos oriundos do próprio país, como o pagode, o forró ou o sertanejo, sempre vão ser populares, ainda mais de 20 anos pra cá, quando eles encontraram uma formula pop.

O Natiruts está dentro do pop, transcendeu o estilo. Acho que o reggae tem muito a crescer, espero que mais bandas apareçam.

G1 – Há um cenário propício para isso?

Alexandre Carlo – Acho que a política está dentro de tudo. E, com esse governo, fica muito difícil pensar em qualquer crescimento que não seja na área da especulação, de banqueiros e afins.

G1 – O clipe de ‘Dois planetas’ tem muito de astrologia. De que forma esse tema aparece no trabalho de vocês?

Alexandre Carlo – Na influência do reggae mesmo. Ele surgiu como uma ferramenta de imposição de ideias e de expressão da realidade dura jamaicana, mas sempre foi muito conectado com a espirtualidade.

Essa mistura de música com espiritualidade, a gente já faz há muito tempo. No ‘Índigo cristal’, isso é mais direto.

“Estamos numa fase muito madura. Já passou aquela época do deslumbramento, do sucesso, das descobertas. É natural falar desses assuntos, que vão além do material.”