Em álbum diverso e cheio de convidados, de Eminem a Ariana Grande, a rapper mostra todas as suas armas para mostrar que continua no topo.

Um espectro ronda “Queen”, 4º disco de Nicki Minaj – o espectro de Cardi B. Claro que o estilo tem espaço para várias rainhas, ainda mais com as paradas cada vez mais comandadas por mulheres e pelo rap. Mas o efeito da concorrência forte e a obstinação renovada de Nicki se provar a número 1 no estilo está na cara deste disco.

Não é questão de fomentar rivalidades femininas, mas de colocar a carreira e a atitude de Nicki em perspectiva. Basta reparar a capa meio Cleópatra no alto de árvore. Nicki quer retomar seu trono no rap. E a música, em geral, está à altura da ambição.

Nem é só Cardi B, a vizinha mais nova de Nova York que virou fenômeno nos EUA com o hit “Bodak Yellow” e agora o álbum “Invasion of privacy”, que pode ser considerada ameaça ao reinado de Nicki e, por consequência, alvo indireto de sua fúria em “Queen”. Nicki encara homens e mulheres e quer se provar boa em tudo, de rap acelerado e furioso a balada docinha.

Rainha diversa

Veja só “Barbie dreams”, com base de “Just playing (Dreams)”, de Notorious B.I.G. Não é só homenagem, mas uma mostra de que Nicki não se intimidaria na turma de B.I.G. ou qualquer outra do rap. A letra destrói meio mundo, inclusive amigos que estão no disco, como Lil Wayne e Swae Lee. Tudo dentro da cultura de batalhas do rap – aqui com dose extra de sangue nos olhos.

Mas o que se comentou mais em redes sociais foram supostas menções a Cardi B. E nem há nada direto. O principal verso que seria para concorrente mais jovem de Nova York foi apontado por fãs logo na primeira faixa, “Ganja burn”.

“Pelo menos eu posso dizer que escrevi todo o rap que eu faço”, Nicki diz.

Seria uma indireta para Cardi após ela ser acusada de usar “ghost writers”, ou compositores de aluguel.

Mas é na variedade de estilos, de vocais e até na extensão de tempo do álbum que ela mais aposta para se afirmar. São 66 minutos (seguindo a tendência atual do álbum-playlist) que atiram em muitas direções, com ajuda de 32 produtores.

Também dá para ter uma ideia da ambição pela lista de convidados: Eminem, Ariana Grande, The Weeknd, Future, Lil Wayne, Swae Lee, Foxy Brown, Labrinth…

Não faltam exemplos daquele vocal de rap único e inventivo dela (“Chun Swae” é o melhor deles), mas vai parar também em:

  • r&b romântico (“Come see about me”, “Bed”, com Ariana Grande),
  • fofice irônica (“2 lit 2 late”),
  • melodia com malemolência (“Thought I knew you”),
  • trap com risadas maníacas (“Rich sex”, com Lil Wayne),
  • climão arrastado meio rap emo (“Hard white”),
  • rap pop e r&b cheio de dinâmicas diferentes (“Majesty”, com Eminem),
  • toques hispânicos (“Miami” e “Coco Chanel”),
  • batidas retrô de Nova York (“Chun-li”, essa já conhecida e matadora).

Dá tempo de passar por tudo isso e de até começar a ficar repetitivo e menos inspirado, lá depois de dois terços do disco. Nessa hora, você vai conferir se o álbum já acabou e o Spotify começou a tocar umas coisas parecidas aleatórias automaticamente – mas não, ainda é “Queen”.

Parece que Nicki quer vencer de todo jeito, inclusive pelo cansaço.

E aí, funcionou?

Mal ela não está. Entre os críticos, por exemplo, “Queen” teve o mesmo patamar de elogios de sua carreira (tem nota 71 em 100 no site “Metacritic”, que faz a média das principais críticas, dentro do histórico entre 60 e 72 dos outros três discos) . “Invasion of privacy”, da Cardy B, parece inspirar mais empolgação na imprensa e tem nota 84.

Mas claro que Minaj não faz música para jornalista velho. Mesmo quem considerar que “Queen” é longo demais não pode negar que dá para pescar vários hits lá no meio.

Talvez seja o caso de considerar essas comparações mais como um caso de Blur x Oasis, em que a suposta concorrência ajudou a levantar os dois lados criativamente e comercialmente, do que em histórias mais destrutivas e trágicas como do rap leste x oeste dos EUA nos anos 90.

Que venham mais concorrentes e provocações reais ou imaginárias para deixar Nicki Minaj sempre afiada como em “Queen”. Assim todo mundo ganha.