Talvez somente o amor genuíno pela música explique o fato de o produtor Carlos Eduardo Miranda (21 de março de 1962 – 22 de março de 2018) ter sido o responsável pelo lançamento do grupo brasiliense de rock Raimundos no mercado fonográfico através do selo Banguela, em 1994, e também o cara que deu forma ao primeiro elogiado álbum da cantora paraense de tecnobrega Gaby Amarantos, Treme (Som Livre), editado em 2012 no embalo da redescoberta dos sons de Belém (PA) pelo Brasil.

No caso, o elo improvável entre Raimundos e Gaby foi a paixão pelo sons que moveu o músico e produtor gaúcho em vida encerrada na noite de ontem, por conta de mal súbito, sofrido por Miranda em casa, na cidade de São Paulo (SP), um dia após ter festejado o 56º aniversário. Esse elo abarca o Skank, grupo mineiro que lamentou publicamente em redes sociais a saída de cena do produtor que, no início dos anos 1990, chamou a atenção do Brasil para aquele até então desconhecido quarteto de Belo Horizonte (MG) que misturava reggae com pop.

Talvez Miranda atualmente seja mais conhecido pelo público pela atuação nos anos 2000 como jurado em programas de TV como Ídolos e Astros, mas a grande contribuição deste produtor à música brasileira foi dada nos bastidores. De início, ele tentou ficar sob os holofotes do palco. Nascido em Porto Alegre (RS), Miranda se iniciou na música como um tecladista aspirante a compositor que integrou bandas locais como Taranatiriça, Urubu Rei e Atahualpa Y Us Panquis.

Ao migrar para São Paulo (SP), Miranda se aventurou na função de crítico musical sem deixar de atuar na cena independente. Mesmo quando deixou o jornalismo musical, Miranda continuou crítico. Ele questionou publicamente os caminhos musicais seguidos por Gaby Amarantos após o primeiro álbum e falou mal do rock produzido atualmente no Brasil.

O produtor musical Carlos Eduardo Miranda  (Foto: Divulgação / Sesc Thermas)
O produtor musical Carlos Eduardo Miranda (Foto: Divulgação / Sesc Thermas)

Só que, além de ter falado, Miranda também fez. Nos anos 2000, em associação com a gravadora Trama, criou a Trama Virtual, pioneira plataforma que permitiu que bandas independentes postassem músicas e discos na web. Nos presentes anos 2010, Miranda foi o diretor artístico do efêmero selo fonográfico StereoMono, patrocinado por marca de cerveja. Por esse selo, projetou em 2014 nomes como Jaloo, destaque da atual cena eletrônica paraense. Contudo, a contribuição mais relevante de Miranda à música pop do Brasil foi dada nos anos 1990. Miranda foi fundamental para renovar a cena roqueira daquela década ao lançar os Raimundos (em selo aberto com o aval e o patrocínio do grupo Titãs), ao propagar o Skank e ao trazer à tona o então emergente grupo pernambucano Mundo Livre S/A, entre outras proezas.

Miranda foi do rock, mas também de todo o universo pop, porque sabia que a música desconhece fronteiras. Por isso, a precoce saída de cena do artista enluta nomes como a cantora Maria Rita, que já manifestou em rede social a tristeza pela morte de Carlos Eduardo Miranda, um apaixonado pela música que nunca cessa no universo pop.