Ao G1, Jesse Rutherford citou as influências de pop e hip hop do quinteto que toca no Lollapalooza. Ele afirmou que usa o computador, e não instrumentos, para compor.

Sabe aquela história de a banda se juntar no estúdio com guitarra, baixo, bateria, papel e caneta para compor músicas? Então, isso já era. Quem diz é Jesse Rutherford, vocalista do Neighbourhood. Aos 27 anos e com pinta de galã, ele acha que a questão é geracional:

“Nós sentamos na frente do computador – como a maioria das pessoas da nossa geração, eu diria”, diz ao G1 o líder da banda que toca no Lollapalooza em 25 de março.

Rutherford é franco nas respostas, mas não soa arrogante. Exemplo: será mesmo que o Neighbourhood, como sugere o perfil do quinteto no Spotify, “reescreveu as regras do significa ser uma banda de rock no cenário moderno” ao lançar o segundo disco, “Wiped out!” (2015)?

O cantor devolve dizendo que sequer considera este um grupo de rock e reforça que prefere hip hop e pop. Mas vá lá: “Eu diria que nós abordamos isso de um jeito novo, realmente reformulamos o que é uma banda de rock”.

Formado em 2011 na Califórnia por Jeremy Freedman (guitarra), Zach Abels (guitarra), Mikey Margott (baixo) e Brandon Fried (bateria), além de Rutherford, o Neighbourhood lançou o primeiro álbum, “I love you”, em 2013. É deste o bem-sucedido single “Sweater weather”.

A turma é produtiva: já lançou seis EPs e ainda a mixtape “#000000 & #FFFFFF” (2014), com evidente influência de hip hop. O trabalho mais novo, terceiro álbum de estúdio, é o homônimo “The Neighbourhood”, lançado agora em março de 2018.

Nesta entrevista por telefone, o bem-humorado Rutherford deu ainda um motivo adicional para o público do Lollapalooza ver ao vivo THE NBHD (apelido do grupo). “Sou mais bonito ao vivo do que nas fotos”, justificou, rindo.

G1 – A descrição do The Neighbourhood no Spotify diz que no ‘Wiped out!’, segundo álbum da banda, vocês ‘reescreveram outra vez as regras do significa ser uma banda de rock no cenário musical moderno’. O que isso significa?

Jesse Rutherford – Eu não sei. Eu não acho que, em algum momento, nós nos destacamos por ser uma banda de rock… Queríamos apenas estar envolvidos com cultura pop e pop music como conhecemos. Somos considerados uma banda rock, as pessoas querem se referir a nós assim. E você não pode controlar o modo como as pessoas vão se referir à banda.

Se nós somos uma banda de rock moderno, eu diria que sim, que nós abordamos isso de um jeito novo, realmente reformulamos o que é uma banda de rock.

Este é o melhor jeito que consigo responder. Nós reformulamos, que precisávamos fazer isso. Acho que nossas próximas músicas vão fazer isso, iremos levar isso adiante.

G1 – Em uma entrevista para a ‘Billboard’ há quarto anos, você comentou o que achava do rock: ‘acho que é uma arte datada que já era, rock and roll está completamente morto’. De lá para cá, sua opinião mudou?

Jesse Rutherford – Não – não exatamente.

Acho que isso tem a ver com o fato de que existe uma essência rock and roll. É uma estética, um estilo de vida, mais do que um gênero musical. É isso o que eu penso, sabe?

O rock and roll, enquanto gênero [musical], com instrumentos sendo tocados ao vivo, nos discos, nas gravações, o jeito tradicional… Acho que eu me referia ao rock tradicional, quando disse aquilo. Mas as coisas podem sempre voltar.

Nós meio que aprendemos, olhando para a nossa história, que tudo pode mudar. As pessoas mudam, sabe? Talvez amanhã a ideia das bandas pode voltar, com todos os instrumentos ao vivo. Não posso prever.

Mas sinto que, desde que estamos neste jogo – as coisas que fazemos –, nós todos nos apoiamos em torno da pop e do hip hop nas músicas que fazemos. É esta a música que criamos.

Não acontece de irmos para uma sala e escrevermos uma música com guitarras e bateria. Nunca foi assim que fizemos as coisas. Nós sentamos na frente do computador – como a maioria das pessoas da nossa geração, eu diria.

G1 – Em dezembro de 2014, o Neighbourhood lançou a mixtape ‘#000000 & #FFFFFF’, que mostrou um estilo diferente, um hip hop sombrio. Por que aquela mudança de rumo?

Jesse Rutherford – Foi uma sugestão minha.

Acho que me sinto naturalmente mais confortável e aceito quando estou com uma banda atrás de mim, fico lá na frente, sou meio que visto como um cantor de rock… Mas gosto de hip hop muito mais que gosto de rock. Então, sempre quis fazer algo mais hip hop.

O que eu fazia antes era considerado mais hip hop, sinto que agora é só pop. Mas, sim, sempre foi meu objetivo ter uma mixtape.

Quando tive a ideia, perguntei para os caras do Neighbourhood: “O que acha que fazermos isso e colocarmos o nome da banda?”. Porque eu sabia que nunca uma banda tinha lançado propriamente uma mixtape.

O modo como fizemos foi mais um projeto da banda, não algo da minha carreira solo. Ajudou muito a nossa banda para mostrar para as pessoas o quanto estávamos à frente, e por que éramos diferentes e podíamos fazer mais coisas que qualquer coisa.

A ideia era lançar 18 músicas de graça numa mixtape. Tudo teve a ver com uma jogada, eu sinto hoje em dia.

G1 – Desde que a banda começou, qual a principal mudança no Neighbourhood?

Jesse Rutherford – Nós, literalmente, mudamos de vizinhança [referência ao nome da banda]. Saímos de onde éramos, de nossa zona de conforto. Conhecemos o mundo, e não vemos o mundo mais em branco e preto, como costumávamos ver. Crescemos juntos, viajamos juntos, criamos juntos. Emocionalmente, estamos mais fortes como banda.

“Wipe out!” foi, literalmente, um ato de fazer uma limpeza. Foi uma época esquisita para nós. Tivemos de descobrir muitas coisas uns sobre os outros, como trabalhar uns com os outros. Fazer aquele projeto funcionou para nós.

G1 – O que você está ouvindo atualmente?

Jesse Rutherford – Beastie Boys, por exemplo.

Amo ouvir música, mas gosto muito mais de fazer. Não sou muito de ouvir, mas realmente gosto de assistir a entrevistas, vi David Bowie, Beastie Boys, acho entrevistas muito legais – e elas me fazem me interessar pela música que a pessoa faz (risos).

Aprendo com essas pessoas, às vezes não tem a ver só com música, é só com o jeito como eles são, sentem o mundo, se portam. Gosto de ter meu próprio ponto de vista musicalmente falando, mas me ajuda bastante.

G1 – Quais as suas expectativas para o Lollapalooza?

Jesse Rutherford – Um pandemônio. Espero que seja uma loucura – no melhor sentido.

G1 – O fã-clube brasileiro do Neighbourhood informa que, em 2017, São Paulo rendeu mais execuções no Spotify da banda do que qualquer outra cidade no mundo inteiro. O que acha disso?

Jesse Rutherford – Isso significa muita coisa, sabe? Nós interagimos tanto na internet, e tem pessoas do Brasil. É incrível “traduzir” isso para a vida real, é realmente empolgante, ir de fato para o Brasil…

Eu tenho um “feeling” de como pode ser, mas acho que ode ser ainda mais impactante, mais maluco. Não posso sequer imaginar, neste momento.

G1 – Por que o público do Lollapalooza deve ver o Neighbourhood e não uma banda que esteja tocando exatamente na mesma hora?

Jesse Rutherford – Não sei (risos).

Somos a P. da melhor banda do mundo. Por que nos ver e não outro artista [no Lollapalooza]? Acho que eu pareço muito melhor ao vivo do que nas fotos, então venham ver (risos).