A máquina de ritmos de Gilberto Gil funciona a todo vapor. Além de ter aprontado álbum com as músicas inéditas que fez a partir de 2016, o artista baiano também decidiu compor para o disco que a cantora Roberta Sá lançará no segundo semestre deste ano de 2018 com inédito repertório inteiramente dedicado ao cancioneiro de Gil (em foto de Daryan Dornelles).

Em bom português, isso significa que haverá, num futuro próximo, dois álbuns com músicas novas de Gil, ambos produzidos por Bem Gil, um dos filhos do patriarca de família musical. Por mais que haja eventual interseção entre os repertórios dos dois discos, trata-se de álbuns com músicas diferentes – todas assinadas por Gil, que completará 76 anos de vida em 26 de junho. Uma dessas músicas – Afogamento, gravada por Gil em dueto com Roberta para o disco da cantora potiguar – entrou esta semana em rotação na trilha sonora da novela Segundo sol (TV Globo).

Em evidência sobretudo a partir de 2016, a alta produtividade do compositor nessa fase da visa é rara entre os ícones da MPB da geração de Gil. Chico Buarque lança álbum de músicas inéditas com intervalo de seis anos entre um e outro disco de estúdio. Milton Nascimento tem composto pouco, embora venha fazendo shows e/ou parcerias com artistas mais jovens como Tiago Iorc e o rapper Criolo. Caetano Veloso ainda compõe e se renova, mas já está há seis anos sem lançar álbum com músicas inéditas. O que somente evidencia a vitalidade de Gil no confronto com a produção dos contemporâneos do artista.

Em 2017, Gil abriu parceria com Nando Reis durante o processo de criação da edição ampliada do show Trinca de ases, projeto que reuniu Gil, Nando e a cantora Gal Costa em cena. Paralelamente, Gil saiu no ano passado em turnê pelo Brasil com Refavela 40, coletivo show comemorativo das quatro décadas do visionário álbum Refavela (1977) que ainda está em cartaz. Tudo isso após ter concluído o próprio disco de músicas inéditas e enquanto criava as composições para o oitavo álbum de Roberta Sá. Não é pouca coisa!

Ativada no início da década de 1960, a máquina de ritmos de Gilberto Gil continua em plena atividade, desafiando as convenções e limitações impostas pelo tempo-rei.