Foto: Reprodução
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ANÁLISE – Inaugurada no Brasil em 20 de outubro de 1990, a MTV nacional já chegou tarde ao país, com pelo menos oito anos de atraso. O universo pop já vinha associando música e imagem desde a primeira metade dos anos 1980, criando canal de comunicação visual com o jovem da época. Há 30 anos, a MTV entrou no ar no Brasil para consolidar esse canal em legado discutido por VJs e executivos em podcast apresentado por Gabriela Sarmento, repórter do G1.

A partir de 1982, com a explosão nacional da banda Blitz, o mercado fonográfico se abriu para grupos de rock. E entenda-se por rock não somente o gênero musical que veio ao mundo nos anos 1950, mas uma atitude. Um conceito. Uma linguagem. A MTV sintonizou o jovem brasileiro que falava essa língua, mas que ainda não tinha uma emissora de TV exclusivamente musical para ouvir músicas e ver clipes.

A imediata sintonia entre a MTV e o público-alvo da emissora legitimou o investimento. E o fato é que, ao longo dos anos 1990, aparecer na MTV – de preferência com clipe bem conceituado por VJs, jornalistas, apresentadores e pela audiência – foi fator decisivo para o sucesso de uma banda ou de um cantor associado à estética pop da emissora.

A abertura desse canal visual de comunicação com o público jovem contribuiu para a consolidação nacional de bandas brasileiras surgidas nos anos 1990, como Skank e O Rappa, para citar somente dois grupos que entenderam a importância capital de um clipe bem filmado e investiram alto (com o dinheiro das respectivas gravadoras…) em produções de vídeos.

Somada à força comercial dos programas da série Acústico MTV, logo transformados em discos que injetaram ânimo em carreiras que pareciam ter perdido o fôlego inicial (como pareceu serem os casos dos Titãs e do Kid Abelha em 1997 e em 2002), a propagação dos clipes – a rigor e desde sempre, as maiores estrelas da MTV – fez da emissora um motor fundamental para o pleno funcionamento da indústria da música no segmento pop que englobava gêneros musicais como rock, rap, funk e reggae.

Até porque não havia internet em larga escala, e isso também foi determinante para o sucesso da MTV na fase inicial da emissora. Antes do mundo ficar ao alcance de um clique, coube a MTV conectar os jovens do Brasil que falavam a mesma língua pop e que ouviam os mesmos discos.

A partir dos anos 2000, com a expansão da rede, tudo mudou. E tudo mudou ainda mais com a criação do YouTube em 2005. À medida em que essa plataforma de vídeos passou a ser o canal preferencial de artistas e do público para ver clipes, em escalada ascendente, a MTV foi perdendo o sentido.

Não por acaso, a emissora definhou no Brasil, a partir de fim dos anos 2000, até ser extinta em 30 de setembro de 2013 (a MTV no ar atualmente nada tem a ver com a emissora musical aberta há 30 anos).

Com as redes sociais e com o YouTube, os canais entre artistas e público estão abertos e mantidos sem a necessidade de uma chancela oficial, de um interlocutor.

A bem da verdade, a MTV dos anos 1990 já não teria lugar ou função no mundo conectado em 4G ou 5G. Mas nada apaga a importância histórica da emissora musical no Brasil. Embora concentrada nos anos 1990, essa importância conecta definitivamente a MTV do Brasil ao pop nacional produzido no país naquela década.