Cantora voltou após 10 anos ao Brasil com turnê de disco triste e conquistou público com autoironia e show despojado. No fim, ela puxou gritos contra Bolsonaro.

“Essa música é sobre a deterioração do meu casamento”, diz Lily Allen, com um sorriso irônico, ao cantar “Family man”. Foi um jeito de dar leveza às músicas confessionais e tristes do disco “No shame” na passagem de sua turnê ao Brasil, na noite deste domingo (9).

Diante de 20 mil pessoas no Memorial da América Latina, Lily conseguiu superar duas desvantagens: o repertório novo, que não é muito animado, e a produção do show, com apenas dois músicos se alternando entre baixo, teclados e bases eletrônicas. Foi o primeiro show dela no Brasil após turnês em 2007 e 2009.

A falta de uma banda é decepcionante, e é difícil tirar do show a cara de “karaokê”. No começo ela parece desconfortável: diz que está nervosa, usa um vestido largo estranho, briga com os cílios postiços e fica coçando o olho toda hora.

Aos poucos, este aparente desconforto parece mais estratégia, ou o jeito dela de verdade, com um charme desajeitado. Outra música triste deste quarto disco, “Lost my mind”, é apresentada com o mesmo jeito irônico: “Essa é sobre viajar pelo mundo e perder a cabeça”.

Lily Allen segura bandeira do Brasil durante show no Cultura Inglesa Festival, em São Paulo, neste domingo (9) — Foto: Celso Tavares/G1
Lily Allen segura bandeira do Brasil durante show no Cultura Inglesa Festival, em São Paulo, neste domingo (9) — Foto: Celso Tavares/G1

A voz não é excepcional, mas suficiente para transmitir os sentimentos (melancólicos) em músicas como “Apple” e “Three”. Nessas músicas de arranjo mais simples, há até “shhhhhs” de pedidos de silêncio no público com quem falava mais alto.

Pode não ser o show mais animado, mas não deixou de ser divertido e emocionante. O jeito autoirônico combina com as letras em que ela admite a culpa por fracassos no casamento, com as filhas e com a vida adulta. Foi imperfeita e autêntica.

O show fica mais político quando ela toca a antiga “Fuck you”, no fim. Ela lembra que fez a música pró-LGBT para o então presidente dos EUA George W. Bush, mas que agora costuma dedicar a Donald Trump. “Mas como estou no Brasil”, Lily diz, “pensei em dedicar ao seu presidente”. O show termina com gritos dela e do público contra Bolsonaro.

Duda Beat

Duda Beat foi uma das atrações da 23ª edição do Cultura Inglesa Festival neste domingo (9), em São Paulo — Foto: Celso Tavares/G1
Duda Beat foi uma das atrações da 23ª edição do Cultura Inglesa Festival neste domingo (9), em São Paulo — Foto: Celso Tavares/G1

Antes de Lily, Duda Beat fez um show de abertura bem recebido pela plateia já cheia. A turnê do primeiro disco da cantora pernambucana tem produção caprichada, com backing vocals, dançarinos e figurino meio “Lua de Cristal”.

Como de costume no Cultura Inglesa Festival, a brasileira fez covers de artistas ingleses. O primeiro bloco foi de versões sofrência de “Thank you”, da Dido, “Careless whisper”, de George Michael e “Every breath your take”, do Police. Tudo a ver com o romantismo nível máximo dela – meio rádio AM, meio boteco de madrugada.

Mas a versão mais divertida ficou mais para o final, com “Say you’ll be there” das Spice Girls em ritmo de forró. Outra parte bem aplaudida foi “Chega”, com Jaloo e Mateus Carrilho no palco.

Ainda teve ‘Chapadinha”, versão de “High by the beach”, de Lana del Rey (essa em português mesmo). Ela conseguiu segurar bem o show de uma hora. O público, bem novinho, foi só amor com as musicas de paixão exagerada e brasileira de Duda.