Ao sair definitivamente de cena aos 82 anos, o empresário paulista Mario Priolli (1936 – 2018) – morto ontem, 4 de julho, na cidade fluminense de Cabo Frio (RJ) – leva com ele parte expressiva da história da música brasileira. E também histórias de bastidores.

É que Priolli foi o fundador da mais mítica e famosa casa de shows do Brasil, Canecão, assim batizada por ter sido inaugurada como cervejaria carioca em junho de 1967. Até ser fechada em 2010, quando chegou ao fim a briga que se arrastava há anos na Justiça entre Priolli e os proprietários do imóvel que abrigava o Canecão em bairro nobre da cidade do Rio de Janeiro (RJ), a casa foi símbolo de status na MPB. Sobretudo nas décadas de 1970 e 1980.

Fazer show no Canecão, com ou sem sucesso, já provocava a imediata subida da cotação de um artista no mercado da música brasileira. Cumprir uma temporada de sucesso na casa – como a feita pelo show que reuniu, em 1975, Chico Buarque e Maria Bethânia e que lotou o Canecão por meses, gerando disco ao vivo (foto) – era atestado de consagração para um cantor. A prova de que chegara ao mais alto patamar da música brasileira.

Palco da consolidação de Roberto Carlos como cantor romântico na década de 1970, o Canecão abrigou shows dos maiores nomes da MPB. As maiores estrelas passaram por lá. Artistas da estatura de Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994), Bibi Ferreira, Elis Regina (1945 – 1982), Caetano Veloso, Elizeth Cardoso, Simone e Vinicius de Moraes (1913 – 1980).

O Canecão, templo do empresário Mario Priolli (Foto: Isabela Marinho / G1)
O Canecão, templo do empresário Mario Priolli (Foto: Isabela Marinho / G1)

Tanto era a força do Canecão que, em 1985, um então anônimo cantor de churrascaria, Elymar Santos, arriscou o único apartamento próprio para alugar a casa de Priolli por uma única noite em show que, alicerçado em boa estratégia de marketing, encheu o Canecão e se tornou o passaporte do cantor carioca para o sucesso nacional.

Assim era o Canecão, casa repleta de magia, templo habitado pelos deuses da música. E, nos bastidores de todos os shows, estava um empresário de carne e osso, Mario Priolli, hábil na lida cotidiana com egos inflados, diplomata (e paciente) no convívio com artistas de temperamentos explosivos – como Tim Maia (1942 – 1998), cantor que nem sempre fazia os shows combinados e anunciados, dando bolo horas antes da apresentação – e conciliador, como são os melhores empresários do ramo, além de muito generoso, sempre disposto a regar as mesas dos artistas com champanhe e uísque da melhor qualidade.

Passada a era de sucesso, Priolli viveu os últimos anos em crise financeira, longe dos holofotes e dos artistas com quem tanto conviveu nas mesas e nos bastidores do Canecão. Com ele, parte a memória de um tempo mítico e áureo da música rotulada como MPB. O tempo de Mario Priolli.