O solo de guitarra de Edgard Scandura na gravação de Amada amante não vai conquistar quem esperava uma centelha de subversão na abordagem do repertório de Roberto Carlos por Nando Reis.

Primeira amostra do álbum Não sou nenhum Roberto, mas às vezes chego perto (programado por Nando para ser lançado em 19 de abril, data do 78º aniversário de Roberto), o single Amada amante sinaliza um tributo excessivamente referente, quase no limite do cover.

No caso, um cover dessa canção composta por Roberto com Erasmo Carlos e lançada por Roberto no antológico álbum de 1971 que sedimentou a transição do artista de ídolo pop da Jovem Guarda para o trono de maior cantor romântico do Brasil na década de 1970.

Tal como álbum, o single Amada amante foi produzido por Pupillo Oliveira sob direção artística de Marcus Preto. Além de Scandurra, músico convidado da faixa, a gravação de Amada amante traz os toques da bateria de Pupíllo, do baixo de Lucas Martins e do piano e Rhodes de Alex Veley.

Se musicalmente Nando Reis canta com Roberto com devoção de súdito do Rei, a única transgressão do single se dá na romantização da canção dentro dos limites do amor oficial. Na intenção original de Roberto e Erasmo, Amada amante simbolizava o amor sensual de caso extraconjugal.

Capa do single 'Amada amante', de Nando Reis — Foto: Bruno Trindade Ruiz
Capa do single ‘Amada amante’, de Nando Reis — Foto: Bruno Trindade Ruiz

Na voz de Nando, a canção é declaração de amor à mulher, Vânia Reis, com quem o artista aparece na capa do single em foto tirada por Bruno Trindade Ruiz em 2013, na cidade de Quito, quando o caso renovou os votos em igreja da capital do Equador.

Além de Amada amante, o álbum Não sou nenhum Roberto, mas às vezes chego perto traz no repertório algumas músicas lançadas por Roberto Carlos, mas não compostas por ele, casos de Nosso amor (Mauro Motta e Eduardo Ribeiro, 1977) e de Vivendo por viver (Marcio Greyck e Cobel, 1978).

Entre as canções que realmente são do Roberto (com Erasmo), há De tanto amor (1971), Todos estão surdos (1971) e A guerra dos meninos (1980), esta gravada com Jorge Mautner, em participação que talvez seja a maior transgressão de Nando Reis ao dar voz ao repertório de Roberto Carlos.