Os brasileiros que gostamos de cinema somos fissurados no Oscar. Podemos reconhecer suas injustiças, admitir que nem sempre o que conta é a qualidade, achar que entre os seus quase 6 mil eleitores há multidões de lobistas e até admitir que, como atestado de excelência, talvez haja prêmios mais significativos.

Com tudo isso, chega esta época do ano e lá vamos nós assistir até de madrugada aquela festa que, já sabemos, costuma ser um longo desfile de astros e estrelas. Os mais ligados, chegamos até a participar de bolos ou apostas sobre quem vai levar o prêmio para casa. Mais do que um teste ao nosso conhecimento, é outro modo de reconhecermos a importância do Oscar.

É em nome dessa importância que deixamos de lado nosso orgulho de brasileiros e não ligamos a mínima quando a atenção do Oscar pelo nosso cinema é quase nenhuma. É verdade que nos indignamos quando a soberana Academia de Artes e Ciências Cinematográficas deu a Gwyneth Paltrow a estatueta que queríamos nas mãos de Fernanda Montenegro. Mas foi indignação isolada, única em 90 anos de história. Não há patriotadas nem outras atitudes xenófobas quando o cinema brasileiro é preterido.

Quando Anselmo Duarte recusou-se a participar da festa em que seu “O pagador de Promessa”, Palma de Ouro em Cannes, seria o primeiro brasileiro à concorrer entre os filmes em língua não inglesa, não teve muito apoio por aqui. Ninguém viu na mudança do título para “The given word” motivo para a zanga. Também não protestamos quando os dois melhores filmes de Glauber Rocha, “Terra em transe” e “Deus e o Diabo na terra do Sol”, foram selecionados aqui, mas não indicados lá.

Fizemos bem em não considerar vitória brasileira o Oscar a “Orfeu Negro”, mais franco-ítalaliano que brasileiro. O autor da história original, Vinicius de Moraes, detestou o filme. De brasileiro, mesmo, só tinha o galã, Breno Mello, e as canções de Jobim, Vinicius, Bonfá e Antônio Maria. Nem nos animamos muito quando outros conseguiram ser indicados: “Quatrilho”, “O que é isso companheiro?” e, Fernanda à parte, “Central do Brasil”.

Tudo isso significa um respeito ao Oscar que nosso orgulho nem pensar em romper. Aceitamos como normal que o México possa ser um dos grandes vencedores deste ano e até que nossos vizinhos (e rivais) argentinos já tenham ganho o seu antes de nós. Nem vimos nada de mais em “O Grande Circo Místico”, de Carlos Diegues, não ter chegado sequer à fase de pré-classificação na categoria, preterido em favor de filmes da Colômbia, Coréia do Sul, Líbano e… Cazaquistão.