Carioca de 32 anos aprendeu sozinho a criar 'beats', fundou ConeCrewDiretoria e usa experiência no rap para internacionalizar o funk: 'Estão virando uma coisa só'.

Papatinho não canta. Mas já assinou música com seu nome bem ao lado de Snoop Dogg.

É assim em quase todos os seus trabalhos. O carioca de 32 anos levanta a bandeira da valorização do ofício de produtor. E, em breve, vai se ver de novo entre os maiores do rap: é ele o responsável pela batida da recém-anunciada parceria de Anitta com a estrela americana Cardi B.

 

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Esse sou eu de manhã depois de horas trabalhando via Whatsapp com a Anitta. Cansado, mas feliz…Meses atrás a família do rei @mrcatrareal veio aqui no estúdio com umas vozes inéditas dele pedindo uma força, já que éramos muito parceiros. Produzi um funk 150 com trap com uma das vozes dele e acabou saindo uma bomba! Contei a história e mostrei pra Anitta aqui no estúdio e ela curtiu muito… Passou a madrugada aqui, sentou num canto e escreveu o verso dela e ficou foda! Quando ela tava indo embora disse que sempre quis fazer uma música com Mr Catra e pediu pra avisar a família dele que doaria pra eles todo o dinheiro de direito autoral que fosse ganhar com a música e que ia procurar alguém incrível pra cantar junto. Quando ela me disse que Cardi B estava indo encontrar ela ontem em LA fiquei louco na esperança. Fiquei horas fazendo beat e mandando pra ela, ela já tinha 2 opções minhas selecionadas e outras várias de alguns grandes amigos da indústria, mas eu ainda tinha 8 horas pra produzir coisa nova e eu não parei 1 minuto. Essa foi minha cara quando ela me contou que Cardi escolheu a minha. Paizão , 1 semana antes de você partir , você me disse no hospital que ia sair e ia fazer um disco comigo na Papatunes! Essa é pra você e pra toda família Catra! É a prova de que você é eterno! Anitta + Mr Catra + Cardi B + Papatinho !!

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“Nos anos 90, queria saber quem produzia as músicas e não tinha [essa informação]. Comecei a ver acontecendo lá fora. Quando passei a produzir para os artistas, comecei a fazer questão de assinar”, conta ao G1.

Por isso, ele nunca foi um nome por trás do ConeCrewDiretoria, fenômeno da música independente que o lançou no cenário do rap brasileiro. Sempre esteve à frente, citado como integrante ao lado dos MCs.

A banda surgiu em 2005, quando Papatinho deu forma às primeiras músicas do grupo no estúdio na garagem de um amigo.

O grupo ConeCrewDiretoria, com Papatinho no centro — Foto: Divulgação

O grupo ConeCrewDiretoria, com Papatinho no centro — Foto: Divulgação

“Nunca tinha entrado num estúdio na vida. Levei meus três primeiros beats e um monte de papeis cheios de letras”, lembra.

“Saímos de lá com um CD gravado e pedimos para um amigo, que tinha som no carro, tocar. Aí fu***. Depois disso, não teve uma noite que não tenha tentado fazer beat.”

O interesse por música surgiu depois da paixão por tecnologia. Na adolescência, Papatinho gostava de fuçar softwares de edição na internet.

Foi assim que aprendeu a criar batidas por conta própria. “Não tinha onde estudar, não existiam tutoriais como hoje.”

‘A galera do pop’

O trabalho no ConeCrew abriu portas para parcerias com nomes como Gabriel O Pensador, Marcelo D2, Criolo e Black Alien – com o último, em um dos discos mais elogiados de 2019. De repente, começou a aparecer também “a galera do pop”.

“O rap está muito inserido no pop americano hoje. Rihanna e Beyoncé têm produtores que são do rap. Quando Anitta e Ludmilla me procuram, é isso que elas querem. Essa galera não quer uma coisa careta”, explica.

Com as duas brasileiras, Papatinho trabalhou em “Onda diferente”, música do álbum mais recente de Anitta que tem a participação de Snoop Dogg.

O produtor já conhecia o rapper desde 2015 – ele já havia escutado seu som no ConeCrew.

Para a nova parceria com a cantora, ele disse ter trabalhado por 18 horas em busca do beat perfeito.

Cardi B escolheu justamente um que tem uma participação póstuma de Mr. Catra (1968-2018), ícone do funk. “Agora o rap e o funk estão muito unidos, estão virando uma coisa só”, analisa.

Os dois gêneros também se unem no estúdio do selo de gravação criado por Papatinho, o Papatunes.

Além de Anitta e Ludmilla, estão entre os frequentadores do espaço MV Bill, MC Marcinho, Gabriel O Pensador, Kevin O Chris – até Cleo Pires, que jogava videogame enquanto o produtor falava com o G1. Só falta Cardi aparecer por lá.