Carioca de 32 anos aprendeu sozinho a criar 'beats', fundou ConeCrewDiretoria e usa experiência no rap para internacionalizar o funk: 'Estão virando uma coisa só'.
Papatinho não canta. Mas já assinou música com seu nome bem ao lado de Snoop Dogg.
É assim em quase todos os seus trabalhos. O carioca de 32 anos levanta a bandeira da valorização do ofício de produtor. E, em breve, vai se ver de novo entre os maiores do rap: é ele o responsável pela batida da recém-anunciada parceria de Anitta com a estrela americana Cardi B.
“Nos anos 90, queria saber quem produzia as músicas e não tinha [essa informação]. Comecei a ver acontecendo lá fora. Quando passei a produzir para os artistas, comecei a fazer questão de assinar”, conta ao G1.
Por isso, ele nunca foi um nome por trás do ConeCrewDiretoria, fenômeno da música independente que o lançou no cenário do rap brasileiro. Sempre esteve à frente, citado como integrante ao lado dos MCs.
A banda surgiu em 2005, quando Papatinho deu forma às primeiras músicas do grupo no estúdio na garagem de um amigo.
O grupo ConeCrewDiretoria, com Papatinho no centro — Foto: Divulgação
“Nunca tinha entrado num estúdio na vida. Levei meus três primeiros beats e um monte de papeis cheios de letras”, lembra.
“Saímos de lá com um CD gravado e pedimos para um amigo, que tinha som no carro, tocar. Aí fu***. Depois disso, não teve uma noite que não tenha tentado fazer beat.”
O interesse por música surgiu depois da paixão por tecnologia. Na adolescência, Papatinho gostava de fuçar softwares de edição na internet.
Foi assim que aprendeu a criar batidas por conta própria. “Não tinha onde estudar, não existiam tutoriais como hoje.”
‘A galera do pop’
O trabalho no ConeCrew abriu portas para parcerias com nomes como Gabriel O Pensador, Marcelo D2, Criolo e Black Alien – com o último, em um dos discos mais elogiados de 2019. De repente, começou a aparecer também “a galera do pop”.
“O rap está muito inserido no pop americano hoje. Rihanna e Beyoncé têm produtores que são do rap. Quando Anitta e Ludmilla me procuram, é isso que elas querem. Essa galera não quer uma coisa careta”, explica.
Com as duas brasileiras, Papatinho trabalhou em “Onda diferente”, música do álbum mais recente de Anitta que tem a participação de Snoop Dogg.
O produtor já conhecia o rapper desde 2015 – ele já havia escutado seu som no ConeCrew.
Para a nova parceria com a cantora, ele disse ter trabalhado por 18 horas em busca do beat perfeito.
Cardi B escolheu justamente um que tem uma participação póstuma de Mr. Catra (1968-2018), ícone do funk. “Agora o rap e o funk estão muito unidos, estão virando uma coisa só”, analisa.
Os dois gêneros também se unem no estúdio do selo de gravação criado por Papatinho, o Papatunes.
Além de Anitta e Ludmilla, estão entre os frequentadores do espaço MV Bill, MC Marcinho, Gabriel O Pensador, Kevin O Chris – até Cleo Pires, que jogava videogame enquanto o produtor falava com o G1. Só falta Cardi aparecer por lá.