Cantor de 19 anos começou em duelos de rima, estourou com 'Vergonha pra mídia", fez outras parcerias de funk e participou de hit 'Cracolândia' com Alok.

Salvador da Rima se destaca em parcerias, de batalhas de rap na rua a hit de funk com Alok
Divulgação/Instagram do artista

Gabriel Salvador pensou em virar MC aos 15 anos, quando descobriu as batalhas de rimas de rappers na Zona Leste de São Paulo. Ele virou o Salvador da Rima e se criou no terreno fértil entre o rap e o funk paulista. Hoje, aos 19 anos, já emplacou várias parcerias de sucesso.

O artista estourou na cena de SP com o funk coletivo “Vergonha pra mídia”, lançado em abril de 2020. Um sucesso maior ainda veio no fim do ano: “Cracolândia”, parceria com o DJ Alok, Djay W e os MCs Hariel, Davi, Ryan SP.

Agora, ele diz que prepara um EP para este início de 2021. O objetivo com o álbum é “representar cada vez mais as periferias – na mídia, na internet ou em qualquer lugar”, ele resume.

Da esquerda: Hariel, Salvador da Rima e Ryan SP na gravação do clipe de 'Vergonhr pra mídia 2' — Foto: Divulgação
Da esquerda: Hariel, Salvador da Rima e Ryan SP na gravação do clipe de ‘Vergonhr pra mídia 2’ — Foto: Divulgação

O estilo combativo de Salvador da Rima é herdado dos Racionais MCs e renovado pela popular batida do funk de SP.

Sobre “Cracolândia”, ele diz: “A ideia era falar sobre as coisas que podem iludir a gente que mora na comunidade. O Brasil em que a gente vive tem uma realidade difícil, onde o crime e as drogas são presentes no nosso dia a dia e aparecem como uma ilusão. A gente fez um som consciente e o pessoal abraçou.”

“O impacto de uma música como essa é muito grande para mim, faz diferença mesmo. Outro hit pode até bater o mesmo número, mas não muda a sua carreira como ‘Cracolândia’, e também ‘Vergonha pra mídia'”, ele defende.

‘Vergonha pra mídia’

“Onde a gente mora, a cada três minutos tem ocorrência policial. É importante expor isso porque é a realidade. O crime está presente na periferia, assim como a opressão policial. Não funciona fingir que não existe. A gente tem que narrar, explicar. Saber a consequência daquilo“, defendeu Salvador em entrevista sobre “Vergonha pra mídia 2”.

“Me revoltei / Não matei, não roubei / Mas mesmo assim o crime me deixou cicatriz”. Versos duros como os de “Vergonha pra mídia 2” não eram comuns entre os funks mais populares dos últimos anos.

Salvador da Rima e MC Ryan SP, agora junto com MC Hariel, tentavam repetir o fenômeno da primeira faixa. Ela chegou a ser uma das dez mais tocadas do Brasil no YouTube.

“Vergonha para a mídia” 1 e 2 acompanham a ascensão atual do chamado “funk consciente” em São Paulo, mas com duas particularidades: o discurso é mais agressivo, com uma descrição crua e cheia de raiva do cotidiano de violência e de injustiça social.

Batalha acidental

Quando adolescente, ele gostava de cantar funk com os amigos no Morro do Piolho, na Cidade Tiradentes, onde morava. Em 2016, se deparou com uma batalha rimas de rappers na Zona Leste de SP.

Salvador da Rima, Ryan SP e Hariel na gravação do clipe 'Vergonha pra mídia 2' — Foto: Divulgação
Salvador da Rima, Ryan SP e Hariel na gravação do clipe ‘Vergonha pra mídia 2’ — Foto: Divulgação

“Desde pequeno sempre fui o melhor de rima da minha quebrada, mas no funk . Eu fazia uns ‘corres’ em Itaquera, vi a batalha lá e falei: ‘Eu também sei fazer isso'”. Ele virou o Salvador da Rima e começou a ficar conhecido na rua e na internet.

Salvador conheceu pela internet o MC de funk consciente Lele JP. “A gente trocava mensagens e ele me chamou para o estúdio. O Ryan estava lá. Eu puxei o bonde do tema, do projeto, da linguagem para seguir”.

Hariel, Salvador da Rima e Ryan SP na gravação do clipe 'Vergonha pra mídia 2' — Foto: Divulgação
Hariel, Salvador da Rima e Ryan SP na gravação do clipe ‘Vergonha pra mídia 2’ — Foto: Divulgação

Em primeira pessoa

“Quem vive tudo isso muitas vezes não tem espaço para contar a própria realidade. Quando aparece, é mostrada de forma errada por quem é de fora”, ele reclama.

Salvador da Rima, Hariel e Ryan SP na gravação do clipe 'Vergonha pra mídia 2' — Foto: Divulgação
Salvador da Rima, Hariel e Ryan SP na gravação do clipe ‘Vergonha pra mídia 2’ — Foto: Divulgação

“O rap é um movimento social, além de musical. Ele teve uma grande voz na periferia nos anos 90 e 2000. Hoje a voz da periferia é o funk, que fala a linguagem da molecada. Mas a essência dos dois é a mesma. Dar voz a quem não tem. Eu vim com o protesto, para ligar as duas coisas”, diz Salvador.

Além das letras, ele vê um caminho sonoro nessa união: o trap, variação do rap que surgiu no sul dos EUA e é cada vez mais popular, inclusive no Brasil. “O trap e o funk têm o mesmo BPM (batidas por minuto). A mesma levada, só muda a forma. Todo mundo que faz funk faz trap. Isso ajuda.”

Depois do sucesso de “Vergonha pra mídia”, Salvador assinou contrato com a produtora de funk GR6.

Sorriso com ressalva

Hariel, Salvador da Rima e Ryan SP na gravação do clipe 'Vergonha pra mídia 2' — Foto: Divulgação
Hariel, Salvador da Rima e Ryan SP na gravação do clipe ‘Vergonha pra mídia 2’ — Foto: Divulgação

“‘Vergonha pra mídia’ foi um divisor de águas para mim. Três meses atrás eu estava passando dificuldade, aperto. Eu já era famoso por causa das batalhas, mas eu vim de baixo, e aqui ninguém vive de fama, precisa e sobreviver mesmo. Agora está melhor”, afirma.

“O rap e o funk se unem e a favela sorri outra vez”, ele comemora em “Vergonha pra mídia 2”. Mas o verso seguinte traz uma ressalva: “Não é porque nós tamos sorrindo que já esquecemos de tudo o que ‘cês fez'”.