Embora normalmente associado à música sertaneja, o cantor, compositor e violeiro paulista Renato Teixeira tem razão quando defende que o som do cancioneiro autoral do artista se enquadra mais no escaninho da música folk. Em essência, folk à moda brasileira é o que se ouve nas dez músicas do álbum +AR, lançado por Teixeira com o parceiro Almir Sater, cantor, compositor e violeiro sul mato-grossense.

É fato que a viola caipira tocada por Sater em canções como Assim os dias passarão (Almir Sater e Renato Teixeira) e Venha me ver (Almir Sater e Renato Teixeira) – duas das oito músicas inéditas que ampliam a parceria dos compositores neste disco formatado em 2017 entre São Paulo (Brasil) e Nashville (EUA) – evoca a música do Brasil rural.

Contudo, folk é mesmo o rótulo que mais se ajusta ao som que sai de +AR, álbum lançado em março com distribuição da gravadora Universal Music. Parceiros na criação de belas músicas como Tocando em frente (1990), canção levada como refinada toada em gravação precisa de Maria Bethânia, Sater e Teixeira se mostram ligeiramente menos inspirados em +AR no confronto com a safra autoral do anterior álbum da dupla, AR, álbum lançado há três anos.

Os cantores e compositores Almir Sater e Renato Teixeira (Foto: Divulgação)
Os cantores e compositores Almir Sater e Renato Teixeira (Foto: Divulgação)

Mesmo assim, a sequência do disco de 2015 se situa no bom nível que caracteriza as respectivas obras destes cantadores e violeiros, umas vezes com sutil approach pop, como em Flor do Vidigal (Almir Sater e Renato Teixeira), outras vezes em tom mais regionalista, como em Touro mocho (Almir Sater e Paulo Simões), cuja letra fala em “fogão à lenha” e “lampião”, símbolos da vida no interior.

A onipresença do compositor e músico norte-americano Eric Silver na produção do disco, na composição de duas músicas assinadas com a dupla – Minas é logo ali e Festa na floresta – e no toque de vários instrumentos aproxima o som de Sater e Teixeira do universo da música country dos Estados Unidos, como fica evidente em Quando a gente chama (Almir Sater e Renato Teixeira), faixa pontuada pelo toque da guitarra steel de Russ Pahl.

Também indo além das fronteiras do Brasil, aliás, a dupla de cantores e compositores apresenta vivaz híbrido de country e vira de Portugal na música apropriadamente intitulada Vira caipira (Almir Sater e Renato Teixeira).

Em que pesem todas referências externas, o álbum +AR jamais se afasta do universo ruralista em que estão ambientados os cancioneiros dos compositores. Esse mundo sertanejo é sintetizado pela dupla nos versos metalinguísticos de Eu, você e um violão (Almir Sater e Renato Teixeira), canção que versa sobre o poder da criação.

Enfim, Almir Sater e Renato Teixeira tocam a obra em frente no álbum +AR sem perder a referência do ponto de partida. (Cotação: * * *)