Ao ser lançado no mercado fonográfico brasileiro, na segunda metade da década de 1970, o carioca Emilio Santiago (1946 – 2013) se impôs instantaneamente como um dos melhores cantores brasileiros de todos os tempos. Contudo, apesar do prestígio pelo alto padrão vocal e de alguns hits eventuais, Emilio somente conseguiu público e sucesso duradouro quando, a partir de 1988, passou a regravar hits da MPB em medleys na série de discos intitulada Aquarela brasileira e lançada há 30 anos pela gravadora Som Livre com retumbante êxito comercial. Tanto que Emilio exauriu a fórmula em nada menos do que sete volumes.

Projetado em escala nacional a partir de 2003, como vocalista do grupo de pagode Exaltasamba, o paulista Thiago André Barbosa nunca foi nenhum Emilio Santiago, mas canta bem e, justiça seja feita, bem que tentou sair da roda do pagode em discos lançados na carreira solo, sem nunca ter obtido o prestígio do colega antecessor (até porque nunca teve repertório à altura do de Emilio).

Contudo, a indústria da música é implacável, tendo jogado Thiaguinho – como o cantor é popularmente conhecido – novamente na roda como uma espécie de Emilio Santiago do pagode. Porque Tardezinha, projeto fonográfico cujo segundo volume está sendo lançado neste mês de junho, é espécie de pálida aquarela brasileira do gênero, sobretudo dos hits pagodeiros da década de 1990.

Capa do álbum 'Tardezinha 2', de Thiaguinho (Foto: Divulgação / Som Livre)
Capa do álbum ‘Tardezinha 2’, de Thiaguinho (Foto: Divulgação / Som Livre)

Como o anterior Tardezinha, disco ao vivo lançado em janeiro de 2017, o atual Tardezinha 2 (Som Livre) enfileira 11 medleys com hits do pagode ao longo das 12 faixas. Só que, se havia um mínimo cuidado na produção da série de Emilio, o disco ao vivo de Thiaguinho soa linear, monocórdico, na produção orquestrada pelo próprio Thiaguinho com Rodriguinho e Prateado.

O clima da gravação ao vivo feita em 29 de abril deste ano de 2018 é o mesmo do primeiro medley – com a junção de Valeu (Thiaguinho e Rodriguinho, 2009) com Livre pra voar (Thiaguinho e Rodriguinho, 2007) – à última faixa do disco, fechado com esquizofrênico medley que força o link de Sina (Djavan, 1982) com Eva ((Umberto Tozzi e Giancarlo Bigazzi, 1982, em versão em português de Marcos Ficarelli, 1983), sucesso do grupo Rádio Taxi que a Banda Eva tomou para si na década de 1990. Sina, a propósito, perde todo o suingue personalíssimo de Djavan no registro de Thiaguinho.

Se o primeiro volume de Tardezinha gravitou basicamente na roda do pagode da década de 1990, Tardezinha 2 expande o leque temporal da seleção de repertório e entra pelos anos 2000, indo até 2016, ano do pagode genérico Pé na areia (Rodrigo Leite, Diogo Leite e Cauique), lançado há dois anos na voz do cantor Diogo Nogueira e ora regravado por Thiaguinho sem costura com outro hit (é o único samba do disco não alocado em medley).

Thiaguinho (Foto: Divulgação / Eduardo Bravin)
Thiaguinho (Foto: Divulgação / Eduardo Bravin)

Em qualquer tempo, o segundo volume patina no mesmo tom padronizado do primeiro. É como se Thiaguinho fosse um cantor de barzinho que desfila hits com o coro de um público que quer somente cantar junto um punhado de sucessos sem se importar com quem está puxando esses sucessos na roda. O coro popular de Tardezinha 2 soa forte e caloroso, estando evidenciando na mixagem do disco, o que somente reforça a natureza puramente comercial do projeto.

É fato que alguns hits da seleção de pagode, como Depois do prazer (Chico Roque e Sérgio Caetano, 1997) e Recado à minha amada (Salgadinho, Fi e Juninho, 1996), sobressaem na aquarela pelo tom mais sedutor da melodia. No geral, entretanto, Thiaguinho dá voz a sambas mais genéricos. Nesse sentido, ele se distancia bastante de Emilio Santiago, cantor que ia na fonte da melhor música do Brasil para pintar as aquarelas que o tornaram popular há 30 anos. (Cotação: *)