Autora fala ao G1 sobre livro que narra relacionamentos de 3 mulheres: uma transa com homens na frente do marido; outra processou professor com quem havia tido caso; e a terceira vive casamento em crise.

“Three Women”, de Lisa Taddeo, foi publicado neste ano e tem feito sucesso: está sendo adaptado para a TV pelo canal Showtime, apareceu na lista de mais vendidos do “New York Times” e foi tema de reportagem até em veículos que tradicionalmente não dedicam tanto espaço a literatura, como a revista inglesa “The Economist”.

O livro será publicado no Brasil pela editora Harper Collins e, essencialmente, é uma reportagem longa e detalhada sobre desejo feminino e sexo. Como diz o título (“Três Mulheres”, em tradução literal), três mulheres são o objeto do livro, e as trajetórias afetivas delas é o tema de “Three Women”.

Maggie Wilken é a única que tem a identidade revelada. Ela teve um romance com seu professor de colégio e, anos mais tarde, o processou na Justiça.

Às outras duas são dados nomes falsos. Uma delas, chamada de Lisa, agente imobiliária e dona de casa, é casada com um homem que não quer transar. Durante a apuração do livro, ela começou a ter um caso extraconjugal com seu antigo namorado de adolescência.

A terceira, Sloane, tem relações sexuais com outros homens –e, eventualmente, com mulheres– incentivada pelo próprio marido, ora na frente dele ora sozinha, mas, nessas ocasiões, faz vídeos e os transmite.

Dúvida sobre a própria identidade

As três histórias são emblemáticas e cobrem uma parte grande da experiência de ser mulher no começo do século XXI, diz a autora.

Mesmo o caso da personagem Sloane, que tem múltiplas relações, há, em um sentido, pontos de aproximação com histórias mais corriqueiras –a cada momento, ela pesa se cede à vontade de seu marido de vê-la com outros parceiros, diz Taddeo. “É uma história de casamento e confusão de alguém que está em dúvida em relação à identidade.”

Lina, que começou a ter um caso extraconjugal, viaja grandes distâncias e aguarda por longas horas o seu amante, que não se mostra tão disposto como ela a se envolver –demora para responder mensagens, titubeia quando ela o chama para encontros etc.

“Um dos pontos que eu queria que as pessoas se dessem conta ao ler o livro é de como a indiferença, como o ato de não responder uma mensagem, pode machucar alguém”, afirma Taddeo, em entrevista ao G1.

Imagem de Lisa Taddeo, autora de 'Three Women' — Foto: Reprodução/Simon and Schuster
Imagem de Lisa Taddeo, autora de ‘Three Women’ — Foto: Reprodução/Simon and Schuster

“Muitas mulheres não queriam ser uma Lina, mas são”, ela completa. Taddeo diz ter sido surpreendida pelo sucesso comercial.

“O livro foi foi apurado antes do ‘Me Too’ (uma onda de denúncias contra assédio), mas foi publicado depois. Esse é um tema que está no espírito da época atual. ‘Three Women’, no entanto, fala sobre coisas diferentes: o ‘Mee Too’ é essencialmente sobre o que as mulheres não querem, e o livro é sobre o que elas querem. Acho que isso foi um grande motivo [pelo sucesso].”

Ela afirma que houve uma certa controvérsia na forma como o livro foi recebido: para parte das leitoras afirma que as histórias não mostram mulheres que se autovalorizam de uma forma adequada.

Taddeo viajou diversas vezes pelos EUA para encontrar essas três mulheres –duas delas são de cidades pequenas, onde as pessoas são incrédulas em relação ao “Me Too”, por exemplo.

“O julgamento feminino contra outras mulheres, por exemplo, continua vivo e pulsante em muitas partes do país”, ela afirma.

Lina, a personagem que tem um caso extraconjugal, integra um grupo de discussão formado por mulheres de sua igreja, e no livro é descrita a forma como as outras participantes se incomodam com seus relatos.

“Só em alguma medida essas mulheres podem perseguir seus desejos”, diz Taddeo.