Reverenciado como brilhante difusor do samba-jazz no exterior, músico deixa obra associada ao universo latino.

Claudio Roditi na capa do álbum 'Gemini man', de 1988 — Foto: Reproduçã
Claudio Roditi na capa do álbum ‘Gemini man’, de 1988 — Foto: Reproduçã

OBITUÁRIO – O trompetista carioca Claudio Roditi (26 de maio de 1946 – 18 de janeiro de 2020) talvez não tivesse se tornado um embaixador do samba-jazz nos Estados Unidos, para onde migrou em 1970, se não tivesse se deparado na adolescência com a portentosa discografia de jazz de um tio do músico.

Ao ouvir os álbuns de jazz do tio, por volta dos 13 anos, Roditi se encantou com o som de gênios do gênero, em especial Charlie Paker (1920 – 1955) e Miles Davis (1926 – 1991). Mas soube unir o jazz à paixão pelo samba derivado da bossa nova.

E foi assim, entre o jazz e os ritmos do Brasil, que o precoce Roditi – estudante de música já na infância, desde os cinco anos – traçou o caminho musical que seguiu com coerência e brilhantismo até morrer na manhã de sábado, em Nova Jersey (EUA), aos 73 anos, vítima de complicações decorrentes de câncer.

Como Miles, Roditi se especializou no toque do trompete e, se não mudou o jazz como Miles fez mais de uma vez, o músico carioca se estabeleceu como um dos mais brilhantes e virtuosos da geração brasileira influenciada pela bossa nova.

Claudio Roditi sempre foi corretamente associado ao samba-jazz por deixar o fluir livremente esse ritmo até quando tocava standards norte-americanos do jazz.

Contudo, o som de Roditi também se abrigou sob o arco mais amplo do jazz latino. Inclusive porque o músico carioca tocou e gravou discos com Paquito D’Rivera –o saxofonista e clarinetista cubano de jazz que se tornou ícone do jazz latino – e com o percussionista Tito Puente (1923 – 2000) em currículo que incluiu também passagem a partir de 1989 pela United Nations Orchestra, fundada pelo trompetista norte-americano Dizzy Gillespie (1917 – 1993).

Contabilizando mais de 30 álbuns lançados entre 1984 e 2014, a discografia de Roditi destaca títulos como Claudio! (1985), Gemini man (1988), Slow fire (1989), Impressions (2006), Brazilliance (2009) – álbum que valeu a Roditi uma indicação ao Grammy 2010 na categoria Melhor álbum de jazz latino – e Bons amigos (2011).

Claudio Roditi saiu do Brasil aos 24 anos e se tornou nome reconhecido no circuito internacional de jazz latino sem jamais ter se afastado intimamente da música do Brasil, desde sempre incorporada pelo músico ao jazz que lhe deu justa fama mundial